Os mercados estão a dar xeque-mate a uma série de governos europeus.
Os governantes dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha - Spain em inglês) receberam todos guia de marcha ou abdicaram de ir a jogo nas próximas eleições.
Eles fizeram porcaria na gestão da economia e até podemos ser tentados a pensar que estes mercados sem rosto estão a prestar um favor à democracia.
Quando ajudam a correr com governantes que levaram os seus países à pré-bancarrota, estão, de certa forma, a dizer aos políticos que a demagogia já não é aceitável. Governantes que gastem o que não tiverem saberão que têm os dias contados, porque os mercados lhes fecham a torneira. Por causa desses mesmos mercados, hoje vale mais um político que promete austeridade e rigor do que um que promete o céu e a terra. É até verdade que a crise das dívidas soberanas, crise ditada pelos mercados, obrigou os povos a pensar no que têm de sustentável e no que têm de efémero. Hoje tudo é altamente imprevisível, ninguém pode dizer quando vamos bater no fundo mas, ultrapassada esta crise, no futuro tudo será mais racional e, portanto, mais humano.
Mas não nos podemos deixar vencer pelas aparências. Os famosos mercados são pessoas a gerir capital e à procura do máximo rendimento possível. Não é excessivo dizer que os mercados sempre viveram tentados a ajudar a escolher os líderes que, a cada momento, melhor servem os seus interesses. Os exemplos que nos chegam da Grécia e da Itália são, aliás, preocupantes. Damos por adquirido que eleições antecipadas de imediato não são a melhor solução. Achamos normal que se procure agradar aos mercados colocando nesses governos gente mais desligada da política e mais ligada a esses mesmos mercados. Suspender a democracia passou a ser uma coisa aceitável. O que se torna cada vez mais difícil de aceitar é o não se saber antecipadamente o resultado de umas eleições, mas até de surpresas eleitorais a democracia já se livrou.
Olhemos para os nomes de que se fala na Itália e na Grécia. Mario Monti, ex-comissário europeu, é um economista consultor da Goldman Sachs, e Papademos, ex- -vice-presidente do BCE, andou pelas universidades norte-americanas e alemãs. Sem qualquer teoria da conspiração, registo apenas a coincidência: os dois estão ligados à Comissão Trilateral, fundada por Rockefeller. Uma organização criticada à direita pelo ex-senador republicano Goldwater e à esquerda por Chomsky, que entendiam haver nesta Trilateral uma visão pouco democrática da democracia. Eles governarão em nome do povo, mas ao povo nada foi perguntado. No meio das ditaduras, neste caso da ditadura dos mercados, como muito bem nos lembrou Orwell, "os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros".
Paulo Baldaia, aqui