Durante três dias, Manuel João Vieira e os seus alter-egos invadem o Teatro São Luiz, em Lisboa.
Há fado com Lello Minsk, rock com os Ena Pá 2000 e política com o Candidato Vieira.
Tentámos juntar a agenda de Vieira, com as ressacas de Elvis e a vida familiar de Lello. Tarefa impossível.
Valeu-nos a troca de e-mails.
CANDIDATO VIEIRA
Como surgiu o convite para o espectáculo no São Luiz?
Através da minha assessoria de espectáculos e do meu gabinete político de crise. Lembro-me perfeitamente, porque foi quando a Sandra apareceu no Gambrinu's a fazer um escarcéu do caraças. Mas é uma estória que já vem da minha amizade pessoal com o conde de S. Luís.
Qual dos três vai dar melhor espectáculo?
Não sou um homem do espectáculo a não ser na medida em que a política é espectáculo. É o espectáculo mais interessante, porque mexe com a carteira do espectador de uma forma cirúrgica. É como se lhe apalpássemos o duodeno com um sorriso maroto enquanto ele, anestesiado, empunha bandeirolas.
Como se define enquanto artista?
Superior a Berluscona.
Que o distingue dos outros?
A inteligência, a coragem, o poder reformista, a vontade política de transformar Portugal num país definitivamente litoral e clitoridiano.
Que vai pedir como prenda no Natal?
Um ananás.
Faria melhor que Cavaco no caso das escutas?
Essa rapaziada nova aprendeu tudo comigo. Escutas... são mas é surdos.
Tem alguma relação com o Freeport de Alcochete? Já lá foi?
Como dizia Bibi: "Não deve ser a minha pessoa."
Domina o inglês técnico?
As inglesas, tecnicamente. Técnica mista. Inglesa sobre tela.
Acha que seria interessante interromper a democracia, digamos por seis meses, tal como sugeriu Ferreira Leite?
Por 48 anos? Não sei. Já se experimentou e o resultado está à vista.
Se vencesse as eleições, qual seria a sua primeira medida?
Obviamente, demitir-me.
Qual é a sua formação académica?
Taxista de 1.a classe.
Quando recebeu o seu diploma por faxe?
Há coisas que é melhor falar com o meu advogado.
Ainda pretende alcatifar Portugal?
A rapaziada dos vários governos já está a fazer isso por mim. Em betão.
Além de Ferraris, o que daria aos portugueses?
O verdadeiro amor e um ananás.
Disse em tempos que era a reencarnação de Salazar. Além dele mais alguma figura histórica reencarnou em si?
Ramsés III, o da carapinha loura e do cabelo empastado, e Jojó Benzovaque.
Conta com o apoio da Igreja?
A igreja da nossa senhora de não sei quê está comigo...Tenho de perguntar aos meus assessores...
Como se definiria politicamente?
De esquerda-direita e um murro no estômago.
Se se recandidatar que slogan terá?
Para a Madeira e em força!
O que pensa de Obama?
O Osama? É um amigo do seu amigo.
LELLO MINSK
Como surgiu o convite para o espectáculo “O Artista Português É Tão Bom ou Melhor que os Outros”?
O David Ferreira teve a ideia de gravar um disco quádruplo ao vivo e da conversa que tivemos com as pessoas simpáticas que nos acolheram foi surgindo a ideia de um espectáculo singular, que se foi afastando do conceito inicial para passar a ter uma forte componente cénica. Fiquei muito contente.
Qual dos três vai ser o melhor?
Acho que são todos artistas maravilhosos. Nem me sinto bem ao lado de vedetas como essas. Estou um pouco nervoso...
Como se define enquanto artista?
Sou apenas uma pessoa normal, que tenta dar o seu melhor. Ser artista é, simplesmente, um fado.
Que o distingue dos outros?
Acho que tenho menos experiência, mas com a idade hei de lá chegar. Talvez as minhas canções sejam mais simples, mais portuguesas...
Já que estamos no Natal, que vai pedir como presente?
A paz na terra e a harmonia entre os homens.
Qual é o disco do ano?
Não sabia que já tinha saído um disco este ano. Que giro.
Quais são as suas referências musicais?
O quinteto académico de João Paulo, Roberto, Erasmo Orgasmo Carlos, Lassie, Joel Branco e Luís de Funés.
Toca melhor que Elvis Ramalho (Ena Pá 2000)?
Apesar das divergências continuamos amigos. Essas histórias das revistas é tudo mentira.
Qual é o seu ritual antes de subir ao palco?
Rezo sempre à minha santa.
Como escolhe o guarda-roupa?
Herdei do meu tio Feliciano.
A família é importante para si?
É importante porque a banda é feita com os meus irmãos. A família é um pilar da sociedade. Basta ler o “Correio da Manhã” ou o jornal “O Crime”.
Se pudesse mudar de voz, que voz escolheria?
A do Sandokan.
Com quem gostaria de fazer um dueto?
Com a rainha de Inglaterra.
Licor Beirão ou vinho do Porto?
Bagaço. Porque sim. Devia ser nacionalizado.
Vai festejar quando acaba um concerto?
A vida é um concerto.
Como estrela da música e da televisão, qual é a sua opinião acerca dos paparazzi?
Não conheço a família. Não vou a Itália.
Quando vai abrir a sua casa a uma revista cor-de-rosa?
Ontem.
ELVIS RAMALHO
Como surgiu o convite para este espectáculo no São Luiz?
Do céu. O nosso jacto particular caiu na serra da Estrela. Há lá uma base de óvnis, toda a gente sabe mas ninguém diz nada. De qualquer maneira, um indivíduo de compleição esverdeada e protuberâncias anténicas convidou-me e eu disse logo que não.
Qual dos três vai dar um melhor espectáculo?
Sem dúvida Lello Mickey, porque não aparece no espectáculo.
Que o distingue dos outros?
Algumas particularidades: tenho uma cicatriz na minha perna esquerda, resultante de um combate com um javali, sou bipenisado, e um dos meus testículos é exactamente igual ao outro. Parecem clonados.
Já que estamos no Natal, que vai pedir como presente?
Para quando um quádruplo álbum dos Ena Pá 2000?
Qual é o disco do ano?
De que ano? São questões demasiadamente vagas. Gosto do Bola de Nieve.
Quais são as suas referências?
Phil Mendrix, José Afonso, Camões, Joaquim Cordeiro.
Como nasceu o vosso grupo?
Na Maternidade Alfredo da Costa, em Campo de Ourique, no fim dos anos 70, princípios dos 80, ressaca da Revolução. Encontrámo-nos por acaso, vindos dos vários pontos cardeais, e encontrámo-nos no centro do adro da igreja, com as nossas guitarras. Foi automático.
O nome Elvis é uma homenagem ao cantor americano?
O Presley roubou-me o nome. Elvis é obviamente um nome português e o gajo é francês.
Como se inspira para criar letras como “Drogado”?
Foi feita a meias com o Brito. Só criei o refrão “Drogado, cuidado”, o que é muito mais fácil. É só rimar duas palavras.
Como prepara o guarda-roupa?
Uso os mesmos fatos há tanto tempo que nem me lembro.
É importante ter acessórios em palco?
Sim. Utilizo sobretudo o pato Conald para o meu número de ventriloquismo. De qualquer maneira, tudo o que sou devo-o a Conald. É um pato que tem o bico vertical em vez de horizontal.
O que é feito da Marilú?
É um personagem mítico, como o Velho do Restelo, o Bom Gigante e a Victoria de Samotrácia.
Tem algum ritual antes de entrar em palco?
Beber duas garrafas de Jack Daniel’s.
Quais são as vossas exigências para dar um concerto?
Duas contorcionistas tailandesas, sete máquinas de flippers dos anos 70, duas mesas de matraquilhos, droga ou Sumol de ananás, flores (pessoalmente prefiro margaridas), um vitelo e massagistas da Avenida da Liberdade.
Vanda Marques, aqui