Normalmente, o comum português dá
atenção e fixa-se nos detalhes sem grande importância, relegando para o
futuro as coisas que podem ser mais complicadas.
Aí, não há dúvida,
mesmo sem planeamento algum tenho que reconhecer que somos bons pois,
recorrendo à imaginação momentânea e ao desenrascanço, acabamos por dar a
volta à situação mais complicada.
Tem
sido assim na política e não é de agora. Sistematicamente, entretêm-nos
com minudências, transforma-se o acessório em essencial, eleva-se o
absurdo em realidade, o pequeno caso numa decisão fundamental.
Só
assim se percebe a descabida importância que se dá ao caso do ministro
Relvas com o jornal Público. Tanto palavreado por causa de uma coisa
simples. Toda a gente já percebeu que o senhor mentiu sucessivamente,
que o senhor pressionou o jornal e a jornalista para evitar notícias
comprometedoras, que o senhor tinha negócios com uma empresa que usava
abusivamente informação classificada, que a jornalista tem uma agenda
eventualmente ideológica, etc..
A solução evidente e séria era a
demissão do ministro. Demitiu-se a jornalista. A solução passava por
imediatamente reformular a cadeia de comando das polícias secretas em
alguma coisa séria, mas não, discute-se a supervisão. Imaginem a
desconfiança com que as polícias internacionais olham hoje para a
polícia secreta nacional. Mais uma vez, olhamos para o acessório
ministro Relvas e estragámos a reputação de um organismo fundamental à
República.
O
desemprego é o pior da nossa sociedade. Apareceu um sujeito
ultraliberal que ganha 250.000 euros limpos por ano a defender a baixa
de salários. Toda a gente lhe dá importância e discute a frase do
senhor.
Discute-se o acessório e não o fundamental.
Porque será que
devemos dar importância à baixa dos rendimentos e não vemos os exemplos
que funcionam em Portugal?
A auto-europa tem sucesso porque paga bem e
porque é organizada. Não será essa a chave do sucesso?
Concentremo-nos no essencial…
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 6 de Junho de 2012