O 20º romance da prestigiada romancista francesa Catherine Clément reporta-se directamente a um dos episódios centrais da História portuguesa: Alcácer Quibir.
Narrado por um rinoceronte, o romance parte dos despojos da célebre e fratricida batalha para tentar descrever uma Europa em acelerada mutação, dominada pela violência das guerras religiosas.
Misturando figuras históricas reais como personagens extraídas da invenção, a autora de livros como A Senhora, Por amor da índia e A viagem de Théo, cuja obra dedica idêntica atenção ao ensaio e ao romance, concretiza em Dez mil guitarras uma admiração por Portugal que remonta a 1964, ano em que visitou o Castelo de S. Jorge ou o Palácio da Pena, entre outros locais de intenso significado histórico.
O livro destaca-se pelo retrato incisivo que faz de personalidades como D. Sebastião, o Imperador da Áustria ou da jovem rainha Cristina da Suécia, mas muito especialmente pela perspectiva invulgar que introduz ao delegar em diferentes personagens, incluindo um animal bravio, a missão de narrar a história.
Publicado em França também neste ano, Dez mil guitarras vem confirmar a atracção crescente pelo romance por parte de Catherine Clément, autora que começou por dedicar-se inicialmente à antropologia, psicanálise e ficção.
DEZ MIL GUITARRAS
Catherine Clément
Porto Editora
17.50 euros
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