A “firmeza de princípios”, de “opiniões”,
pode ser uma forma vistosa
de camuflar a estupidez.
Ser inteligente é ser disponível.
Vergílio Ferreira
Está mais que confirmado que a
equipa do Poder não tem estofo para defrontar adversários de alguma qualidade.
Nos jogos-treino contra a equipa
de reservas, apesar de ter um colectivo muito fraquinho, a equipa do Poder
acaba por ganhar sempre, pois os adversários nem resistência oferecem. No
entanto, quando tem de subir ao salão nobre dos Paços do Concelho para os jogos
oficiais, a música é outra.
É verdade que a equipa do Poder
costuma entrar nestes jogos, recorrendo a uma grande pressão inicial para
fragilizar a adversária, exercendo mesmo uma verdadeira marcação homem-a-homem
sobre alguns jogadores da equipa da Oposição, por vezes roçando mesmo uma
violência rude.
No entanto, com o decurso do
jogo, acaba por vir ao de cima a evidente debilidade dos diversos sectores da
equipa do Poder, designadamente nos sectores do meio campo e da defesa.
Recorrendo a uma estratégia que
elege o contra-ataque como modelo preferencial, a equipa do Poder acaba por
perder o jogo no meio campo, onde é patente a falta de um trinco com
experiência e onde, até à data NB, o cérebro da equipa que ocupa a posição 10,
pouco mais conseguiu do que fazer uns fracos remates de meia distância, pouco
incomodando o reduto mais recuado da equipa Oposição.
Sem se ressentir da ausência do
seu líder e capitão de equipa (que, por razões de ética e de consciência
pessoal, se encontra ausente em missão de solidariedade), e apesar de manter no
plantel alguns jogadores relativamente aos quais a equipa do Poder já exerceu
pressão fora das quatro linhas, a equipa da Oposição entrou em campo
determinada a vencer o jogo, acabando por surpreender um adversário que se
apresentou com um excesso de confiança que acabou por lhe ser fatal.
Com AC e VO a comandar uma
defesa a jogar em linha, que colocou em permanente fora-de-jogo o solitário
atacante da equipa do Poder, com JP, capitão de equipa em exercício a controlar
um meio campo raçudo e de mangas arregaçadas, as despesas do ataque foram
deixadas à inspiração do deambulante AVG, cuja especialidade é ultrapassar
defesas desatentas e desprevenidas (que jogam sempre a olhar para o público e
que não percebem que o jogo se ganha dentro e não fora de campo), e a conversão
de lances de bola parada –
cantos e livres directos, estes a grande distância e de qualquer ponto do meio
campo adversário.
Tendo conseguido suster o ímpeto
inicial da equipa do Poder, a equipa da Oposição começou a tomar conta do jogo
a meio da primeira parte, praticando um futebol enleante e com jogadas bem
desenhadas, algumas mesmo brilhantes, sendo de destacar o sério aviso deixado
por AC que, numa brilhante jogada individual, progrediu no terreno de jogo até
dentro da área contrária, onde foi impedido de forma irregular, com o árbitro
vindo do Bairro do Mogo a fazer vista grossa e a mandar seguir o jogo.
Já perto do intervalo, e
incentivado por toda a equipa, JP partiu fininho e deu início a uma jogada de
mestre previamente estudada no banco, e com uma finta de corpo só ao alcance
dos predestinados, ultrapassou todos os adversários que lhe surgiram pela
frente, até ser rasteirado por trás em plena área de rigor, ao demonstrar,
perante a inércia dos adversários, que a equipa da casa não tinha apresentado a
documentação de jogo de acordo com a regulamentação desportiva em vigor.
Ante o humilhante espectro de
ser derrotada na secretaria em virtude de JP ter mantido o propósito de jogar
sob protesto, por clamoroso erro técnico, recorrendo para o conselho de justiça
(de Viseu), o juiz de campo, que seguia a jogada a grande distância, ainda
parou o jogo para solicitar a intervenção do quarto árbitro para que este
confirmasse que o ilegal impedimento tinha ocorrido fora da grande área.
Só que o quarto árbitro referiu
que não tinha visto o lance, porque nesse exacto momento estava a olhar para o
marcador electrónico e, não tendo obtido a informação que pretendia, o juiz de
campo não teve alternativa. Mesmo contra a sua vontade, apontou para a marca de
grande penalidade, tendo JP, com um remate bem colocado e em lance de rara
beleza, executado na perfeição a respectiva marcação, com recurso a uma
paradinha que deixou boquiabertos adversários, público e imprensa presentes.
Com o jogo a correr de feição,
com a equipa de arbitragem atarantada e com o adversário prostrado e à mercê de
uma goleada, atingiu-se o intervalo com a equipa da Oposição adiantada no
marcador, passando incólumes as provocações de alguns jogadores da equipa do
Poder aos da equipa adversária, quando regressavam aos balneários.
0 – 1 (ao intervalo)
Após o descanso, o reinício da
contenda foi marcado pelo ensurdecedor silêncio que se fez sentir quando a
equipa do Poder entrou em campo, face à dúvida latente acerca da eventual
nulidade do jogo.
Feitas as contas, os jogadores
da equipa do Poder sabiam que, independentemente da sua capacidade para dar a
volta ao marcador, o seu esforço poderia vir a ser inglório, caso chegasse ao
conhecimento do conselho de justiça (de Viseu), a divulgação do erro técnico
cometido pelo juiz de campo relativo à ilegalidade da documentação de jogo, e
que o oliveiradobairro.net, órgão de comunicação social local, tinha efectuado
durante o intervalo do jogo através do seu enviado especial PF, ex-jogador da
equipa do Poder que, na sequência da aprovação de uma conturbada moção de
censura, viu a direcção do clube rescindir unilateralmente o seu contrato,
votando-o ao ostracismo partidário concelhio e proibindo-o de frequentar as
instalações sociais.
Apesar desta dúvida, a segunda
parte do jogo teve o seu início, e porque era previsível que a equipa do Poder
quisesse dar a volta ao resultado negativo que averbava ao intervalo, a equipa
da Oposição, sem se remeter excessivamente à defesa (onde AC e VO não perderam
um único confronto com os adversários directos), apostou na experiência dos
seus jogadores, mantendo um fio de jogo vistoso, com combinações agradáveis,
jogando pela certa os trunfos de que dispõe, desenvolvendo jogadas geométricas
e calculadas a régua e esquadro, marcando à zona e recorrendo a iniciativas
individuais para desgastar o adversário, onde sobressaíram os toques de
calcanhar e as trivelas de JP.
Matreira e muito perigosa no
contra-ataque, a equipa da Oposição, que nunca perdeu o controlo do jogo,
acabou por aumentar a vantagem através de AVG, o seu homem-golo, em lance
transmitido no ecrã gigante do estádio, e por todos visto e aclamado ao
demonstrar, com recurso a gráficos e esquemas, que a política do executivo é um
verdadeiro flop e que a taxa de
execução orçamental conseguida não se aproxima da prometida.
Foi, pois, com factos
(irregularidade da convocatória e da documentação enviada, maior aumento da
década das despesas correntes, diminuição das receitas globais face à
elevadíssima descida da arrecadação de receitas correntes, maior aumento de
sempre do passivo bancário, diminuição do investimento e consequente e decréscimo
proporcional da taxa de execução orçamental) que a equipa da Oposição respondeu
em campo às declarações prestadas por NB, capitão da equipa do Poder, que já no
flash interview referiu, com um misto
de mágoa (evidente) e azia (contida), que a equipa adversária apresentara uma
estratégia desactualizada, assente em expedientes menores, como o boato e a
insinuação, para desenvolver o seu jogo.
Declarações que apesar de
injustificadas, são compreensíveis e não podem deixar de ser entendidas, tendo
em conta o resultado negativo averbado.
Foi um jogo para recordar, no
qual a equipa do Poder jogou muito mal e onde até GdC, DB, JPS, CF e AE,
apanha-bolas da bancada do Poder, tiveram uma actuação para esquecer.
Por sua vez, a equipa da
Oposição apresentou-se como um adversário forte e coeso, onde se destacaram MCP
(em nítido crescendo de forma), AC (que ao afirmar o que o povo diz venceu
claramente o confronto com o padrinho NB, seu adversário directo), VO (pela
segurança que demonstrou principalmente a defender), JP (pela excelente visão
de jogo e excepcional toque de bola) e AVG (pela codícia com que espreitou
todas as oportunidades para acertar na baliza da equipa do Poder).
A equipa de arbitragem, que
neste jogo surgiu reforçada com um professor de ginástica que demonstrou como é
que em cerca de três minutos se obtém uma licenciatura (independente) em
direito administrativo, teve uma primeira parte para esquecer, na qual fez que
não viu a maior parte das faltas, embora no cômputo geral não tenha
influenciado o resultado final.
Em jeito de conclusão, diremos
que quando os resultados de uma equipa são inferiores ao somatório dos valores
individuais, isso significa que é mal dirigida: é o que sucede com esta equipa
do Poder.
0 – 2 (resultado final)