quinta-feira, 24 de novembro de 2011

JUSTIÇA ESPECTÁCULO

Estão a decorrer dois grandes julgamentos em que os arguidos, sem prejuízo da presunção de inocência, são o espelho do pântano em que há muito se transformou o país, o país-circo, o país-palhaço, o país-político, em que a filhadaputice campeia a muitos níveis.

Todos os processos são excessivamente mediáticos pelo estrondo dos crimes avocados, mas também por ser caça grossa: Armando Vara, das relações de Sócrates, e Duarte Lima, acusado dos crimes de burla agravada, fuga ao fisco e branqueamento de capitais (muitos milhões), é um dos amigos e defensor de Cavaco que, se lhe juntarmos outros, Loureiro Dias e Oliveira e Costa, será fácil de concluir que nem sempre andou em boa companhia.

Se ambos são mediáticos, o caso da detenção de Duarte Lima assume o carácter de grande espectáculo. Antes da operação, já toda a imprensa (e o visado também) sabia, trazendo de novo à discussão o segredo da nossa justiça. As fugas de informação são uma constante nos casos de crimes de colarinho branco, de modo a dar tempo em benefício dos arguidos. Não foi o caso.

As buscas na sua casa (razão: poderia fugir) deveriam ter sido feitas discretamente, “para respeitar a privacidade do cidadão”- ele que já nos invadiu a casa com cara de mentiroso - no entender do Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que logo mandou instalar um processo (mais um, que ficará na gaveta). Afinal, quem libertou a notícia da detenção: o Ministério para os papalvos dizerem: olha como a Justiça também ataca os grandes? A Polícia Judiciária, para se fazer ao elogio: vejam como a PJ é eficaz e trabalha bem? Quem ganhou com o espectáculo? O país, e nós também, já perdemos: temos de suportar os custos de todas as vigarices que andam à volta do BPN, de todos os desvios (roubos milionários, fale-se claro).

Lima ficou detido. Agora resta saber qual o desfecho deste processo e se irá ou não envolver alguns responsáveis do BPN.

Actores deste coturno não deixarão de ter cúmplices.

Naturalmente.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 24 de Novembro de 2011