quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

RES PÚBICA: POR BAIXO DA SAIA DA CAROLINA HÁ UM COELHO PINTADO

A depilação artística é a última moda genital. Os homens tiram tudo. O sexo fica melhor, dizem.

"Já experimentei vários desenhos, mas o que mais gosto e que faço sempre é o coelho da Playboy." Aos 30 anos, Carolina (nome fictício), advogada, é uma das clientes em que Cezar Van Louicci aplica a sua arte no que toca a depilação artística.
 
Se está a pensar em desenhos feitos com os próprios pêlos, acertou. Pode pedir corações, setas a apontar (não vá o/a companheiro/a perder-se) e até coelhinhos da Playboy. Mas nem sempre foi assim.

"Quando cheguei a Portugal apercebi-me que as mulheres só depilavam as virilhas de forma normal e que a depilação mais cavada, como se fazia no Brasil, era só para bailarinas, strippers ou mesmo prostitutas." Cezar nasceu no Rio de Janeiro há 47 anos. Vive em Portugal há 18. Numa voz baixa e pausada, conta a sua paixão pela estética e as diferenças que encontrou. Um país de mulheres conservadoras que não se atreviam a grandes inovações púbicas. Hoje em dia o cenário é bem diferente e nunca se sabe que surpresas escondem as saias de uma mulher.

Quando Cezar propôs a Carolina que fizesse um desenho, ela disse que não: "Senti-me constrangida. Mas depois decidi experimentar e agora estou tão habituada que não consigo ter uma depilação sem ser artística." O processo é simples: a cera contorna os pêlos com a forma desejada e depois é só arrancar.

O facto de Cezar ser do sexo oposto, não a incomoda: "A primeira vez foi estranho, mas ele é tão profissional que eu até me esqueço que ele é um homem."

Em pouco tempo, a depilação brasileira (depilação total deixando apenas uma linha ou um pequeno triângulo de pêlos na púbis) tornou-se uma prática comum. Algumas pessoas até preferem tirar tudo: "Aumenta o prazer sexual", afirma uma relações públicas de 29 anos, que prefere não se identificar. A primeira vez foi há três anos "por iniciativa própria". A esteticista, habituada às lides, não estranhou e cumpriu. A RP "já nem se imagina de outra forma": "É mais confortável e a sensibilidade é maior."

Arte púbica.
Cezar é um verdadeiro artista e estudioso do pêlo. Além de ter um laboratório (com microscópio e tudo) onde estuda as pilosidades e formas de atrasar o seu crescimento, faz os desenhos nas suas clientes sem a ajuda de moldes. Mesmo se as senhoras lhe pedirem uma bola de futebol: "Na altura do europeu e mundial pedem-me bolas, números de jogadores e a bandeira de Portugal." Verde, vermelho, amarelo, rosa-choque, bordeaux (que segundo Cezar, com uma lingerie preta fica "muito bem"), verde ou azul - há cores e tintas (específicas para a zona genital) para os gostos mais extravagantes.

Mas nem só de pêlos vive a púbis. Existe todo um mundo de fantasia por trás de uma saia travada ou de um tailleur mais conservador. "Aplico pedras brilhantes, lacinhos, correntes fininhas e faço pinturas artísticas", explica Cezar. "Este tipo de arte é muito procurada pelas noivas, para a noite de núpcias, como surpresa para o noivo." O resultado pode ir desde uma borboleta brilhante, a uma composição de lacinhos, rendas e brilhantes, a evocar cabarets.

Cezar garante que a cola dura vários dias, para grande alegria das clientes mais arrojadas. A maioria, no entanto, diz não à bonecada e escolhe a depilação total. "Desde mães a avós de família", confessa Cezar com um sorriso.

Nos homens.
"Tive um cliente que ficava com uma erecção do início ao fim da depilação", conta Helena Venceslau, de 43 anos e esteticista há 15. "Ele nem sabia que ficava assim. Na primeira vez só pedia desculpa e ficava com o braço em cima da cara, envergonhado."

Já Francisco, um gestor de 36 anos, e adepto da depilação total, confessa que chegou a ter medo que lhe acontecesse o mesmo, mas depois de experimentar a dor na pele "a excitação é última coisa que passa pela cabeça". "Costumo dizer que vai doer muito mais do que eles pensam", explica Helena, que faz questão de se sentar com os clientes para lhes explicar detalhadamente o processo. 90% da clientela é masculina e se muitos optam pela depilação total - zona genital e anal - outros querem ver-se livres apenas dos pêlos do peito e abdómen.

Francisco começou a depilar-se há três anos por causa de uma operação ao joelho: "Tirei os pêlos das pernas e gostei de ver. Mais tarde experimentei no corpo todo, zona genital também, e já não me consigo imaginar com pêlos." A namorada aprovou; ele sente-se muito melhor. "Para além de ser mais confortável e estético, a nível sexual também é melhor. As sensações são totalmente diferentes."

Ricardo, um biólogo de 34 anos, começou por depilar o peito, a pedido da namorada. Mais tarde experimentou as pernas, já que é adepto de BTT, e finalmente rendeu-se aos encantos da depilação total. "Faço por uma questão de higiene, bem estar e estética. É muito mais agradável não ter pêlos."

Para Helena, a depilação "não é arrancar o pêlos e já está". "É preciso olhar para o corpo do homem e deixá-lo proporcional." A depilação é uma arte que pode ir até onde a imaginação quiser: "Um cliente já me pediu para fazer a primeira letra do nome da mulher, na zona genital, porque era o aniversário de casamento. Achei romântico." E apesar da maioria pedir para tirar tudo - incluindo um cliente de 73 anos naturista ferrenho - há também quem peça "quadrados, rectângulos, triângulos ou o chamado bigode de Hitler". Consegue imaginar?

Numa espécie de estudo sociológico do comportamento masculino, Helena já chegou a algumas conclusões, baseadas na sua experiência e nos mais de 300 clientes que atende de segunda a sábado. "Os homens entre os 35 e os 45 são os que mais se depilam. Quando se separam ou arranjam uma namorada nova, é a primeira coisa que fazem." Há quem a deixe a chorar de alegria, com agradecimentos pela melhoria da vida sexual livre de pêlos, ou pela própria mudança do estilo de vida: "Ajudei um cliente que era tão peludo que não ia à praia há anos, por vergonha. Disse-me que lhe devolvi a vontade de viver." Helena limpa as lágrimas e pede desculpa por ser uma chorona.

Diana Garrido, aqui