O “Contra-Informação”, programa de sátira política exibido há quase 15 anos na televisão pública, acabou.
A RTP não renovou para o próximo ano o contrato com a Mandala, produtora do programa, e os bonecos de “Acabado da Silva” e “José Trocas-te” vão deixar de aparecer na estação pública. Acabou”, confirmou ao PÚBLICO Nuno Artur Silva, que ao lado de Rui Cardoso Martins e José de Pina, foi autor da ideia original do “Contra-Informação”.
O também fundador das Produções Fictícias, onde eram criados os textos para o programa, sublinha que o fim do “Contra-Informação” não foi uma “decisão abrupta”. “O fim do programa já vinha sendo falado. Houve uma conversa entre a Direcção de Programas da RTP e a Mandala e a decisão foi tomada”, adiantou Nuno Artur Silva.
Questionado sobre se este seria também o fim para um formato como o do “Contra-Informação”, o ficcionista indicou que apesar da decisão de pôr um ponto final ao contrato entre RTP e Mandala “não foi fechada completamente a porta” a este tipo de programas. “Se será este o formato, se vai ser reformado, não se sabe”, acrescentou. O autor também não quis avançar razões para o cancelamento do contrato, remetendo explicações para o director de Programas da RTP, José Fragoso.
Nuno Artur Silva lamentou, no entanto, o fim do “Contra”, o “programa de humor há mais tempo no ar”. “É um feito chegar a 15 anos de programa. É uma coisa rara na televisão portuguesa. Acima de tudo, há que fazer um saldo positivo deste programa, que deixou marcas na cultura portuguesa”.
"É o fim de um ciclo"
Foi José Fragoso que deu a primeira indicação do final do “Contra”. “Chegou ao fim um ciclo. Já lá vão 14 anos”, disse o responsável da estação de televisão pública, sem mais detalhes, segundo uma notícia publicada esta madrugada no site do “Correio da Manhã”.
Mafalda Mendes de Almeida, directora-geral da Mandala, adiantou ao PÚBLICO que a produtora foi informada esta semana da decisão. "Fiquei sensibilizada pelo respeito, a consideração com que foi feito o anúncio" por parte de José Fragoso, disse a responsável, a quem foi garantido pelo director de Programas da RTP que "não se fecha a porta" a uma futura colaboração.
Quanto ao futuro, Mafalda Mendes de Almeida diz que agora é tempo de reflexão. "Vamos parar para reflectir, para pensar o que podemos vir a fazer". Questionada sobre o futuro da equipa que até aqui criava o "Contra", a directora da Mandala indicou que o fim do contrato com a RTP surge quando termina também o contrato com 18 pessoas, nomeadamente manipuladores de bonecos.
A reunião que ditou o fim do “Contra” ocorreu esta semana. Mafalda Mendes de Almeida tinha avançado no passado dia 19 ao “Diário de Notícias” que ia haver um encontro com a RTP no dia 25 para discutir o futuro do programa, mas sublinhou que nada indicava que a parceria iria terminar. “É verdade que vamos ter uma reunião com a RTP no dia 25, mas não tenho qualquer indicação no sentido de não haver uma renovação do formato. Sempre tivemos uma óptima relação com as direcções de programas da RTP, e agora também com José Fragoso. Acho mais sensato tirar conclusões depois de a reunião acontecer”, disse ao diário.
Ao DN, José Fragoso admitiu no mesmo dia que o formato do “Contra” poderia “vir a sofrer alterações”, mas sublinhou que o fim do programa não estava “para já em cima da mesa”.
Nuno Santos, que trabalhou cinco anos com a equipa da Mandala enquanto director de Programas da RTP, e pelas mãos de quem o programa passou de diário a semanal em 2006, afirmou ao PÚBLICO que não estabeleceu contacto com a empresa ainda, no sentido de puxar o formato para a SIC. “Não é uma questão que se coloque”, disse.
O PÚBLICO contactou a Direcção de Programas da RTP mas, até ao momento, não se mostrou disponível para falar.
Cláudia Bancaleiro e Ana Machado, aqui