Dentro de alguns dias, a selecção nacional entra em acção. Ao contrário da era Scolari, o entusiasmo não é muito. As equipas de Scolari foram a excepção à regra, à custa de Nossa Senhora de Caravaggio, das bandeiras à janela (algumas ainda lá estão, todas rotas e esfarrapadas em claro desrespeito por um símbolo nacional) e das constantes afirmações populistas do então seleccionador.
Este regresso à normalidade vem mais uma vez provar que os portugueses gostam sobretudo da sua equipa de clube, do Porto, do Sporting ou do Benfica, e que a selecção serve, no mínimo, para abafar as tristezas dos adeptos dos clubes que nada ganharam, sobretudo se entre esses estiver o Benfica. Faça-se o teste. Pergunte-se a um adepto dos três "grandes" se prefere ver o seu clube campeão ou que a selecção seja campeã na África do Sul. Eu não tenho dúvidas na resposta.
As selecções servem, antes de mais, os interesses dos jogadores. Funcionam como montras, montras de excepcional qualidade e visibilidade, ainda por cima no período em que os clubes vão às compras. Acresce que a introdução de estrangeiros nas equipas nacionais, mesmo atendendo à sua completa integração no país (que muitas vezes é uma balela) ajudou a retirar à selecção a característica de equipa de todos nós. Possivelmente, numa sociedade de consumo como a que vivemos, a coisa deve funcionar assim e não poderia funcionar de outra maneira, mas é por isso que o olimpismo também se tornou uma treta em meados do século passado, e que as cores nacionais, no futebol e já em muitas outras selecções, não têm o poder de atracção que as camisolas dos principais clubes conseguem.
É também por isso que, possivelmente, a selecção sentirá a falta de Scolari. Sendo as coisas o que são, o actual seleccionador parece um homem deslocado. O que a selecção certamente necessita é de um bom especialista em marketing, que a promova constantemente e que convença os do seu país de que têm a melhor selecção do Mundo. Com Queiroz, todos sabemos que voltamos ao antigamente: vamos até onde for possível, até onde nos deixarem ir. Eu, pessoalmente, prefiro assim, mas é preciso dizer que eu pertenço ao grupo dos que gostam mesmo é do seu clube.
P. S. Com a sua voz de excelente "diseur", que obviamente o torna mais interessante mas não lhe confere qualquer superioridade moral, Manuel Alegre quer que Cavaco Silva diga já se é ou não recandidato a Belém. Pergunta-se: por que haveria Cavaco de o fazer? Alguma coisa do que diz ou faz como presidente seria diferente se anunciasse que ia ser candidato? Perguntado de outro modo: quando Alegre afirma que "não é saudável para a democracia que um presidente cumpra actos legítimos que possam ser interpretados como estando a fazer campanha", quererá isso dizer que um candidato que não é presidente pode fazer campanha e que um presidente nem sequer pode exercer o seu cargo até ao fim do mandato para que foi eleito sem que o acusem de estar em campanha?
José Leite Pereira in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1586672&opiniao=Jos%E9%20Leite%20Pereira