quarta-feira, 9 de junho de 2010

HERÓIS NACIONAIS, PORQUÊ?

Começa a cansar o exacerbado frenesim apoteótico que envolve cada notícia que pela imprensa escrita e falada é dada sobre uns designados heróis nacionais que se encontram na República da África do Sul para disputar o campeonato do mundo de futebol, havendo mesmo quem se atreva a dizer que estão em missão de cumprimento dos desígnios da nação!
Trata-se, obviamente, de heróis nacionais que já ganham fortunas e que se obtiverem sucesso nessa missão, têm contratos ainda mais chorudos à sua espera no final do seu desempenho. Mas se falharem, nada lhes correrá mal: voltarão ao ponto de partida em classe vip, terão à sua espera todos os paparicos possíveis e imaginários, e os contratos chorudos que tinham à partida em nada serão alterados – ou seja: nada a perder, tudo a ganhar, uma vez que a selecção mais não é do que uma oportunidade de ouro que serve, acima de tudo, os interesses de quantos a integram, sejam dirigentes (sempre com a promoção do seu estatuto em ponto de mira), sejam treinadores, e principalmente de jogadores, que têm aqui uma excepcional possibilidade de se promoverem, e logo na época do defeso, quando os clubes estão disponíveis para investimentos cada vez mais loucos e inomináveis pelo comum dos cidadãos.
Qualquer semelhança entre o seu heroísmo e o de uns milhares de portugueses que há umas dezenas de anos atrás também partiram para África cumprir os desígnios nacionais de então, é pura coincidência. É que estes, quando ganhavam, eram devolvidos à procedência cheios de mazelas físicas e essencialmente psicológicas; e quando perdiam, eram postos dentro de urnas que eram entregues a pais, mulheres e filhos lavados em lágrimas.
Não é pois, nada ténue, a diferença entre os verdadeiros heróis-nacionais de ontem e os artistas que oportunisticamente buscam a melhoria dos seus salários quase obscenamente mercenários.
Ou muito me engano, ou a operação de cosmética que envolve os navegadores visa encobrir, ou pelo menos disfarçar, a reserva e o torcer de nariz de muitos portugueses quanto ao desempenho de uma selecção composta por duas ou três estrelas que cintilam harmoniosamente integradas na mediocridade geral, e que pratica um futebol pastoso e aborrecido, onde as vuvuzelas sopradas pelos adeptos acabam por ser o grande motivo de atracção.