NÃO ME ROUBES NEM UM SEGUNDO
Já te disse, este tempo é todo para mim. Caramba! Cada
segundo que me tiras para dar ao futuro é como se me desdenhasses. Afinal que
marca te deixo que nem segundos me dás?
Não me roubes nem um segundo.
Desses que passávamos a rir quando os nervos atacavam ou o
cansaço era muito. Desses que partilharam migalhas ao canto da boca e rebuçados
da tosse ao fim da tarde. E dos que nos viram a soluçar, a entristecer, a
chorar muito, a embaciar a vista e a adiar a alegria. Sine die.
Também quero daqueles que nos punham zangadas, uma com a
outra, sem falar algum tempo, até desaguar num
desculpa-me-que-não-sei-que-me-deu, que disparate.
Não, não me roubes nem um segundo, que o que resta é nada
disso.
O que resta é só o futuro.
O teu e o meu. Mas já não um só.