Daqui a quatro décadas, 32% da população portuguesa terá mais de 65 anos. Mas Portugal é o que menos investe em cuidados continuado.
Em 2050, Portugal será um país envelhecido. Mas apesar das previsões o investimento português em serviços sociais e de saúde dirigidos aos idosos é o mais baixo dos 25 países da OCDE (apenas 0,1% do PIB).
Daqui a quatro décadas, o número de idosos em Portugal será mais do dobro: 32% dos portugueses terão mais de 65 anos e 11% - contra os 4,4% actuais - terão mais de 80. Não obstante, Portugal está no fundo da tabela no que diz respeito às despesas com cuidados continuados.
As conclusões são de um estudo da Organização para a Co-operação e Desenvolvimento Económicos (OCDE). O relatório, elaborado ao longo de dois anos, conclui que devido ao envelhecimento da população os gastos com os idosos nestes países deverão duplicar até 2050. "Os governos têm de melhorar o acesso às suas políticas de cuidados continuados e providenciar um melhor apoio a cuidados familiares e profissionais", diz o relatório da organização.
O envelhecimento "tem sido acompanhado por um enfraquecimento dos laços familiares" e, por isso, "todos os países, mesmo com diferentes sistemas de financiamento, devem implementar um sistema formal de cuidados de longa duração", sugere o estudo. Além disso, é necessário "aumentar os salários" e "melhorar as condições de trabalho".
A maior parte dos países da OCDE reserva entre 1% e 1,5% do PIB aos cuidados continuados, como os cuidados paliativos, os lares e a assistência domiciliária. Esse número sobe para os 3,6% na Suécia e na Holanda e desce abruptamente para os 0,1% em Portugal e na Hungria.
De onde sai o investimento nestes cuidados? Portugal está no segundo lugar da lista dos países em que esta despesa mais sai directamente dos bolsos dos beneficiários (45% contra os 30% da Alemanha ou de Espanha).
O relatório elege a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, em 2006, como um dos desenvolvimentos mais significativos no sector nos últimos dez anos em Portugal. "Até recentemente", diz o estudo, "os cuidados continuados eram sobretudo da responsabilidade das famílias e de instituições de caridade". O novo modelo organizacional, criado pelos ministérios da Saúde e do Trabalho e da Solidariedade Social, foi a "resposta à falta de infra-estruturas de longa duração e cuidados paliativos".
Em 2008, as Misericórdias eram os principais prestadores da rede nacional de cuidados continuados (61%), 16% eram instituições particulares de solidariedade social (IPSS), 11% entidades ligadas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e 12% entidades privadas. Actualmente, cresceu o peso dos privados, que representam já 23% das prestações de cuidados continuados. As Misericórdias representam 48%, as IPSS 20% e as entidades do SNS apenas 9%.
O número de camas em centros de dia, lares e outras intuições para pessoas idosas disparou em sete anos. Se em 1998 eram 79 mil, em 2005 eram já 20 mil as camas para idosos.
Sílvia Caneco, aqui