O número de eleitores que se abstêm por comodismo varia de eleição
para eleição, consoante a importância que os cidadãos atribuem ao acto
eleitoral, estejam em causa eleições legislativas, autárquicas,
europeias ou referendos específicos.
Em cada uma
destas categorias, o investigador e docente do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) desdobra o tipo de abstencionistas
em três. São, portanto, nove as tipologias. Há desde os abstencionistas
contestatários aos indiferentes, passando pelos cépticos, pelos que
revelam falta de identificação, falta de esclarecimento, pelos que
identificam falta de dramatização, pelos que evocam causas pessoais ou
razões técnico-administrativas. E depois há os abstencionistas por
comodismo, que se enquadram no grupo dos flutuantes.
“Entre
estes nove tipos de abstencionistas encontram-se os que não votam por
comodismo e cuja expressão numérica varia consoante o tipo de eleição,
ou seja, ao sabor da importância que os eleitores atribuem ao acto
eleitoral, fenómeno que a ciência política designa como eleições de
primeira e segunda ordem”, vinca Jorge de Sá.
Se
no referendo de 1998 sobre a despenalização do aborto os
abstencionistas por comodismo representavam 27% de todos os que não
foram votar, nas legislativas de 1999 a percentagem foi de apenas 9%, o
que contrasta com os 28% registados nas europeias realizadas quatro
meses antes nesse mesmo ano.
Este último valor está próximo do estimado
para as europeias seguintes, de 2004 (30%), e o mesmo se passa com o
novo referendo à despenalização do aborto, de 2007 (29%); nas
legislativas de 2005 que deram a maioria absoluta ao PS, a percentagem
já não está tão próxima dos valores das legislativas de 1999 (9%). No
entanto, volta a haver uma coincidência quando se comparam outros dois
actos eleitorais, as presidenciais de 2001 em que Jorge Sampaio foi
reeleito (12%) e as presidenciais de 2006 que deram a vitória a Cavaco
Silva (14%).
Como se
definem os que não votam por comodismo? Jorge de Sá enviou ao PÚBLICO
algumas respostas directas dadas por esses inquiridos. À excepção da
tónica comum que é o facto de representarem a não comparência às urnas,
há respostas tão díspares como “Almocei tarde e depois adormeci”,
“Fiquei por casa, a não fazer nada”, “Estive a brincar com o meu neto”,
“Não me apeteceu”, “Quando dei por ela já era tarde”, “Fui passear o cão
e pus-me à conversa com a vizinha”, “Fui passar o dia com os meus
compadres”, “Estava a jogar à sueca” ou simplesmente “Há coisas mais
giras do que votar”.
Pedro Crisóstomo, aqui