O Presidente da República fez o que devia: anunciou com tempo que não
há espaço para recuos, não viabilizará qualquer governo minoritário por
mais acordos parlamentares que lhe assegurem.
Cavaco Silva tem razão. O
país não pode fugir de um governo de maioria absoluta, o mundo
transformou-se numa máquina complexa que retira a possibilidade de a
política ser um confronto diário de ideias. É o preço a pagar para a
sobrevivência da nossa periférica pequenez, a brutal e gloriosa ditadura
dos mercados destruirá quaisquer veleidades mais delirantes. É o que
é.
Se Passos Coelho ganhar as eleições, o que passou a ser
surpreendentemente possível, terá de governar com um PS esfrangalhado e
sem a liderança de António Costa que, perdendo as legislativas, sairá
pela porta dos fundos sem honra ou glória. Nesse cenário, Francisco
Assis é o parceiro preferido do centro-direita e será bastante provável
que regresse a Lisboa e gaste uma semana a receber militantes
arrependidos e em miserável pranto.
Uma segunda palavra, para as estratégias. A força de Passos Coelho é a
da previsibilidade, escrever novos livros com ideias originais é para
escritores ou lunáticos. Acredita que deve ser repetitivo, que não deve
assustar o país com sonhos ou melancolias. Já a força de António Costa
terá de ser a contrária, mostrar que é desejável que se escreva um novo
livro, explicar que as ideias novas permitirão um novo impulso, que não
há motivo para alarme ou para o medo pois tudo ficará melhor.
Num certo
sentido os dois fazem um esforço para que o país não se assuste - Passos
por acreditar que Portugal o premiará (agora ou no futuro por serviços à
Pátria), Costa por achar que falar da escrita de um novo livro o
aproximará dos delírios de José Sócrates. Um quer continuar a escrever
um livro chato, enfadonho e previsível. O outro quer escrever um novo
livro, mas deseja que os portugueses saibam que esse novo livro será tão
chato, enfadonho e previsível como o de Passos Coelho.
Precisamos de um
pouco mais de sal. E de um pouco mais de paixão, à direita e à
esquerda.
Luis Osório, aqui