Em pleno século XXI, os políticos comportam-se como se o
paradigma da comunicação assentasse hoje numa lógica unidirecional e os
cidadãos se constituíssem como uma massa amorfa para quem se disparam
balas mágicas que transformam miraculosamente comportamentos.
Em termos
comunicacionais, o anúncio da candidatura de Maria de Belém à
Presidência da República é um exemplo daquilo que não se faz. Mas não é
um caso isolado.
Quando em abril deste ano Hillary Clinton revelou
que entrava na corrida para candidata dos democratas à presidência dos
EUA, o meio de comunicação escolhido para fazer essa revelação foi um
interessantíssimo vídeo publicado no YouTube e noutras redes sociais.
Num curto e bem ritmado filme, vários americanos, de perfil
diferenciado, diziam-se "prontos" para recomeçar novas etapas de vida
(dois irmãos hispânicos abriam um negócio, um casal gay iniciava uma
vida comum, uma reformada redescobria outras formas de passar o tempo,
uma jovem mulher grávida...).
No final, eis a senhora Clinton, no
interior de uma empresa e depois na rua, a declarar-se também pronta
para ser presidente, falando de forma direta e com um entusiasmo
contagiante. "Quando as famílias estão fortes, a América está forte",
afirma. A palavra de ordem não é "nós". Passou a ser "tu". "É a tua
vez". No mesmo dia deste anúncio, a candidatura de Hillary Clinton abria
uma página da Internet e a candidata colocava-se na estrada em
campanha. Mesmo os republicanos mais convictos dificilmente conseguiram
passar à margem desta eficaz forma de comunicar. Com agilidade, com
otimismo, com inovação. Clinton aprendeu que precisava de reinventar
formas de comunicação para estar à frente. Como fez Barack Obama em
2008.
Em Portugal, o modo como tem sido gerida a comunicação nas
presidenciais transporta-nos para o século passado. Para fazer o anúncio
da sua candidatura à Presidência da República, Maria de Belém enviou um
comunicado à agência Lusa e disse que não faria mais nada até ao dia 4
de outubro. O texto foi encaminhado, quando António Costa estava em
direto na SIC Notícias. Estragou-se a entrevista. Horas antes, Belém
tinha acompanhado o secretário-geral do PS na entrega das listas pelo
círculo eleitoral de Lisboa, desviando o ângulo noticioso para as
presidenciais. Nada mais desastroso. Para Costa e para Belém.
Os
restantes candidatos que se apresentaram à corrida não se mostram mais
hábeis. O anúncio das candidaturas fez-se em modo tradicional e em
registo enfadonho. Talvez tivessem cativado meia dúzia de eleitores, mas
colocaram em debandada aqueles para quem a comunicação política
pressupõe outras plataformas e outros conteúdos.
À direita, ainda
não se conhecem candidatos oficiais. No entanto, as três possibilidades
que se vão desenhando têm sabido gerir tempos políticos e aparições
mediáticas. Num jogo de esconde-aparece, Rui Rio vai pontuando a sua
aparição no espaço público com entrevistas e falando através de fontes
não identificadas que lá vão passando mensagens que se julgam
politicamente eficazes para garantir uma candidatura com apoio do PSD.
Pedro Santana Lopes, apesar de ter manifestado vontade de já estar na
estrada, recuou, sabendo que poderia contar com a presença regular na
SIC Notícias. Marcelo Rebelo de Sousa dispõe da vasta audiência das
noites de domingo da TVI para falar do que quer sob uma aparente
imparcialidade. Até agora, nada tem corrido muito mal para os três, mas,
dentro de poucas semanas, ei-los a ter de avançar ou recuar de forma
definitiva. E aí começa a verdadeira avaliação daquilo que cada um vale.
E esse juízo passará em grande parte pela capacidade de comunicar.
Face
a uma classe política envelhecida e viciada em velhas fórmulas de falar
com o eleitorado, não se esperam grandes revoluções. Mas, pelo menos,
poder-se-ia avançar um pouco e perceber que hoje a comunicação se faz
noutras plataformas, com outras mensagens e com renovados registos. Para
cativar a enorme massa de eleitores que estão cansados dos velhos
políticos e das vetustas estratégias de comunicação.
Felisbela Lopes, aqui