segunda-feira, 24 de agosto de 2015

CANDIDATOS INÁBEIS

A classe política portuguesa não sabe comunicar.

Em pleno século XXI, os políticos comportam-se como se o paradigma da comunicação assentasse hoje numa lógica unidirecional e os cidadãos se constituíssem como uma massa amorfa para quem se disparam balas mágicas que transformam miraculosamente comportamentos.

Em termos comunicacionais, o anúncio da candidatura de Maria de Belém à Presidência da República é um exemplo daquilo que não se faz. Mas não é um caso isolado.

Quando em abril deste ano Hillary Clinton revelou que entrava na corrida para candidata dos democratas à presidência dos EUA, o meio de comunicação escolhido para fazer essa revelação foi um interessantíssimo vídeo publicado no YouTube e noutras redes sociais. Num curto e bem ritmado filme, vários americanos, de perfil diferenciado, diziam-se "prontos" para recomeçar novas etapas de vida (dois irmãos hispânicos abriam um negócio, um casal gay iniciava uma vida comum, uma reformada redescobria outras formas de passar o tempo, uma jovem mulher grávida...).

No final, eis a senhora Clinton, no interior de uma empresa e depois na rua, a declarar-se também pronta para ser presidente, falando de forma direta e com um entusiasmo contagiante. "Quando as famílias estão fortes, a América está forte", afirma. A palavra de ordem não é "nós". Passou a ser "tu". "É a tua vez". No mesmo dia deste anúncio, a candidatura de Hillary Clinton abria uma página da Internet e a candidata colocava-se na estrada em campanha. Mesmo os republicanos mais convictos dificilmente conseguiram passar à margem desta eficaz forma de comunicar. Com agilidade, com otimismo, com inovação. Clinton aprendeu que precisava de reinventar formas de comunicação para estar à frente. Como fez Barack Obama em 2008.

Em Portugal, o modo como tem sido gerida a comunicação nas presidenciais transporta-nos para o século passado. Para fazer o anúncio da sua candidatura à Presidência da República, Maria de Belém enviou um comunicado à agência Lusa e disse que não faria mais nada até ao dia 4 de outubro. O texto foi encaminhado, quando António Costa estava em direto na SIC Notícias. Estragou-se a entrevista. Horas antes, Belém tinha acompanhado o secretário-geral do PS na entrega das listas pelo círculo eleitoral de Lisboa, desviando o ângulo noticioso para as presidenciais. Nada mais desastroso. Para Costa e para Belém.

Os restantes candidatos que se apresentaram à corrida não se mostram mais hábeis. O anúncio das candidaturas fez-se em modo tradicional e em registo enfadonho. Talvez tivessem cativado meia dúzia de eleitores, mas colocaram em debandada aqueles para quem a comunicação política pressupõe outras plataformas e outros conteúdos.

À direita, ainda não se conhecem candidatos oficiais. No entanto, as três possibilidades que se vão desenhando têm sabido gerir tempos políticos e aparições mediáticas. Num jogo de esconde-aparece, Rui Rio vai pontuando a sua aparição no espaço público com entrevistas e falando através de fontes não identificadas que lá vão passando mensagens que se julgam politicamente eficazes para garantir uma candidatura com apoio do PSD. Pedro Santana Lopes, apesar de ter manifestado vontade de já estar na estrada, recuou, sabendo que poderia contar com a presença regular na SIC Notícias. Marcelo Rebelo de Sousa dispõe da vasta audiência das noites de domingo da TVI para falar do que quer sob uma aparente imparcialidade. Até agora, nada tem corrido muito mal para os três, mas, dentro de poucas semanas, ei-los a ter de avançar ou recuar de forma definitiva. E aí começa a verdadeira avaliação daquilo que cada um vale. E esse juízo passará em grande parte pela capacidade de comunicar.

Face a uma classe política envelhecida e viciada em velhas fórmulas de falar com o eleitorado, não se esperam grandes revoluções. Mas, pelo menos, poder-se-ia avançar um pouco e perceber que hoje a comunicação se faz noutras plataformas, com outras mensagens e com renovados registos. Para cativar a enorme massa de eleitores que estão cansados dos velhos políticos e das vetustas estratégias de comunicação.

Felisbela Lopes, aqui