sábado, 18 de julho de 2015

DIVAGAÇÕES SOBRE A R.A.T.A, ESSA OBSCENIDADE EM FORMA DE LEI



Porque os outros se mascaram, mas tu não 
 Porque os outros usam a virtude 
 Para comprar o que não tem perdão. 
 Porque os outros têm medo mas tu não. 
(…)
Porque os outros vão à sombra dos abrigos 
 E tu vais de mãos dadas com os perigos. 
 Porque os outros calculam, mas tu não.

 Sophia de Mello Breyner

Num tempo em que a r.a.t.a. dá a volta ao miolo a meio mundo, escrever sobre o assunto acaba por não ser fácil para qualquer um; e tudo se complica ainda mais porque, qualquer que seja a abordagem, acaba por consistir em dar opinião sobre algo que não conhecemos uma vez que, para além de a questão ser, já de si, bastante delicada, é uma matéria que exige estudo, conhecimento de causa e, principalmente, vivência prática da situação.

Começo por dizer que por ter atingido a maioridade, me sinto um cidadão de corpo inteiro e completamente dotado de toda a minha capacidade e pujança, inclusivamente física, uma vez que no próximo acto eleitoral já poderei votar. E, por isso, foi com o sangue a ferver que assisti ao périplo de debates realizados nas diversas freguesias tendo a r.a.t.a. como tema único, momentos que considero muito importantes para o meu crescimento como homem e como futuro político, pois foi a primeira vez na minha vida que fiz uma abordagem à r.a.t.a. e à política em geral.

Como é normal, sempre que se trata da primeira vez, seja no que for, nem sempre as coisas correm bem. E comigo também se passou o mesmo, uma vez que, apesar da minha expectativa e sofreguidão em ficar a saber o mais possível sobre a r.a.t.a., o que é verdade é que, numa semana inteira, apesar de não ter falhado nenhuma das sessões seguidas, pouco aprendi sobre o assunto. A única conclusão a que cheguei no final das sessões é que esta r.a.t.a. tem muito poucos amantes e que os poucos que dizem venerá-la não parecem muito sinceros, porque dizem que a r.a.t.a. até tem virtudes, lançando palpites sobre a agregação de todas as freguesias menos daquela que cada um quer que se mantenha inocentemente intocada. Ou seja, tudo muito bem, venha de lá essa r.a.t.a. desde que ninguém toque nas intimidades das freguesias que lhes são mais queridas.

Dito de outro modo: gostam da r.a.t.a. mas apenas se esta lhes satisfizer as suas intenções e apetites do momento. Pergunto eu, que ainda sei pouco disto: acham que este é um sentimento puro? Acham que esta é uma forma sincera de se manifestar apoio a uma r.a.t.a.?

Por isso mesmo, para quem pediu ajuda às populações aguardando destas uma mensagem clara, e prometendo respeitá-las, ela aí está. Vamos lá ver se agora não fazem como fizeram quando foi com a l.a.d.r.a. (ligação à Águas da Região de Aveiro), em que pura e simplesmente foi ignorada a oposição da esmagadora maioria dos eleitores!

Mas muito sinceramente, apesar de apenas ter ficado com uma ideia superficial sobre o que é a r.a.t.a., já percebi que se uma r.a.t.a. for boa não podemos menosprezá-la. Mas é essencial que se trate mesmo de uma boa r.a.t.a., porque não sendo boa, ou seja, sendo igual àquela que agora que por aí apareceu caída do céu aos trambolhões, então a verdade é que por não trazer grandes vantagens, será sempre uma r.a.t.a. que não interessa nem ao menino Jesus.

Apesar de ainda ser um novato em matéria de r.a.t.a. já consegui perceber que não há nenhuma r.a.t.a. que só dê vantagens aos seus fregueses. Por isso, o que há que concluir é que uma r.a.t.a. deve ser considerada como boa quando traz mais vantagens do que desvantagens, e quando os seus beneficiários podem tirar verdadeiro partido dessas vantagens. Para isto, é essencial que essa r.a.t.a. coloque mais meios e melhores serviços ao dispor dos seus utentes.

Se isto acontecer, de certeza que ficam todos mais satisfeitos e, embora presentes, não serão seguramente tão valorizados os princípios e os valores individuais do tempo da antiga r.a.t.a. e, em pouco tempo, já ninguém se lembra da r.a.t.a. anterior.

Todos sabemos que a actual r.a.t.a. já está há quase dois séculos ao serviço de milhões de fregueses e que já não satisfaz plenamente todas as exigências dos tempos de hoje. Apesar disso, não podemos esquecer que, no auge da sua maturidade, o serviço público que esta velha r.a.t.a. prestou foi de excelência, não deixando os seus fregueses indiferentes, queixosos ou lamurientos.

É também por isso mesmo que não podemos atirar a actual r.a.t.a. para o caixote do lixo, assim de rompante, só porque é velha, para de seguida nos atirarmos a esta nova r.a.t.a. que nos puseram à frente do nariz, abocanhando-a à ganância e como se não houvesse amanhã!

Cá para mim, mesmo percebendo pouco do assunto, sou da opinião que temos que ter calma a pensar muito bem antes de trocarmos de r.a.t.a.!

Desde logo, importa saber quem é, e de onde vem esta nova r.a.t.a. Sobre isso, o que se sabe é que apareceram por aí uns cavalheiros, uns branquelas vindos da União Europeia, de charuto na boca e cartola na cabeça, filhos de uma tal ‘Troika’. E toca de dizer que os portugueses tinham de mudar de r.a.t.a., porque a  que têm ao seu serviço é gulosa e interesseira….

Grandes sacanas! Coitada da nossa r.a.t.a...

Anda há quase dois séculos a aturar tudo e todos, de norte a sul do país, marmanjos que se aproveitam dela são às centenas e agora é que se lembram de a maltratar, dizendo que cobra muito caro e que é uma chupista gastadora de muito dinheiro…

Vejam bem ao que isto chegou: como se os barrigudos da família ‘Troika’, só porque andam por aí a pavonear-se com malas a abarrotar de euros enquanto largam grandes baforadas de fumo, tivessem o direito de entrar por aqui dentro, a pôr e a dispor como se estivessem em casa deles, difamando a r.a.t.a. de que se servem os portugueses…

Mas que falta de respeito! Sabem lá eles o que é o decoro! Eles, que nem imaginam o serviço público que esta r.a.t.a. já prestou aos portugueses e as dificuldades por que já passaram juntos… 

E assim, de supetão, mesmo sem conhecerem as milenares mamoas da nossa Mamarrosa nem o sangue quente da nossa vaporosa Palhaça, e nem sequer imaginam que, quanto a Bustos, estamos bem servidos e que quanto ao resto está tudo no sítio e não vale a pena mexer. Toca de nos impor uma nova r.a.t.a., concedendo uns fingidos 90 dias que, afinal, são quatro meses e meio, para a aceitarmos sob pena de nos ser imposta à força!

Como se isso fosse assim… Mas, afinal, onde é que estamos? É que esses cromos nem se preocupam em saber se é essa a vontade dos fregueses… Ou será que essa malta não sabe que, na questão da r.a.t.a., a vontade do freguês é essencial?

Não… Nada disso… Sem sequer, deram-se ao trabalho de preparar o terreno… Limitaram-se a dar uma tosquiadela às relvas e tomem lá disto: atiram-nos como uma r.a.t.a.* nova, que ninguém por aqui conhece de lado nenhum, e agora desenrasquem-se… Senão ficam enrascados!

Parece que anda tudo tolo…

Ora vamos lá ver. Acho que não deve haver quem não goste de uma r.a.t.a. nova. Principalmente quando a que temos é velha e já com bastantes folgas…

Mas caramba… Há que ter respeito… A antiguidade ainda é um posto!

Querem fazer-nos crer que a r.a.t.a. que nos apresentam é uma madame com princípios, objectivos, parâmetros e níveis de enquadramento, mas, vistas bem as coisas, não é mais do que uma dengosa, com uns seios que não passam de uns disformes troncos de silicone, com as pernas, o buço e os sovacos mal depilados, com unhas, extensões do cabelo e dentadura postiças, com perfume e rímel de marca contrafeita, com bijuteria de fantasia e com anéis de latão tosco: uma autêntica galdéria fetichista. É o que esta r.a.t.a. é!

Meus amigos, acreditem no que vos digo: esta r.a.t.a. não é séria e, vista de perto, é uma verdadeira desilusão. Quem olhar para ela com olhos de ver, facilmente se apercebe de que é uma cínica de baixo nível, que trata as freguesias de chicote em punho, mas que se agacha aos municípios. E depois quer que os fregueses pensem que reorganiza a administração do território autárquico com imparcialidade, a safada, que nem sequer abre o bico sobre as regiões administrativas.

O que esta r.a.t.a. mais parece é, isso sim, uma reles contorcionista de varão de inox! Topei-a logo à distância. Bastou-me vê-la a cruzar as pernas e a exibir aqueles sapatos vermelhos de verniz, com bico fino e salto de agulha!

Sabem que mais? Reza na Constituição da República que todos temos o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os nossos direitos, liberdades e garantias. É por isso que comigo é ponto assente que esta r.a.t.a. nem à experiência fica!

Job Júnior
(estudante universitário que paga as propinas com o salário que aufere como repositor de produtos lácteos numa grande superfície comercial)