SER ÓRFÃO
Órfão
é todo aquele
perdeu um ou ambos os pais,
em virtude de
uma doença, um acidente, 
uma guerra ou
uma catástrofe;
mas é também
todo aquele, 
que tão simples
e miseravelmente, 
foi abandonado
pelos pais. 
Ser órfão 
é aprender a
viver
sem o carinho,
a compreensão e o calor do colo de uma Mãe,
e sem o abraço e
o ombro amigo e seguro de um Pai.
Ser órfão 
é não poder
chamar “Mãe”.
Ser órfão 
é não poder
chamar “Pai”.
Ser órfão
é saber-se
entregue a si próprio, 
e sentir-se
irredutivelmente desamparado, 
por se saber só
e vulnerável.
Ser órfão 
é nunca estar
preparado para a partida, sem retorno, dos pais.
Ser órfão
é viver com um
grito de alegria preso,
sem poder
partilhar os triunfos alcançados e as mágoas sofridas. 
Ser órfão 
é viver
permanentemente com a alma a jorrar saudade,
do passado, do
presente e do futuro.
Ser órfão 
é ter de se
erguer e caminhar vida fora,
sem partilhar com
os pais,
risos, lágrimas,
abraços e joelhos rasgados.
Ser órfão 
é viver noites
gélidas sem fim à vista, 
é o vazio, é
falta de ar, é desespero, é desgraça…
Ser órfão
é dor! 
Ser órfão é, 
nas palavras de
Guerra Junqueiro, 
“não ter na vida aquilo que todos têm, 
é como a ave sem ninho... 
é qual semente perdida que, ao voltar do seu eirado, 
o lavrador descuidado deixou tombar no caminho”. 
Mas ser órfão é
também 
encontrar na
esperança 
e na alegria do
seu semelhante, 
força para ir
povoando a alma. 
Ser órfão é ser
lutador e bravo, 
de peito aberto
para a vida,  
mas acolhedor e
manso para ir atrás da felicidade.
Ser órfão 
é viver com os
olhos postos no céu 
vendo nele três
letrinhas mágicas, 
MÃE, 
PAI,
à espera que
velem nós…
