domingo, 19 de julho de 2015

SER ÓRFÃO



SER ÓRFÃO

Órfão
é todo aquele perdeu um ou ambos os pais,
em virtude de uma doença, um acidente,
uma guerra ou uma catástrofe;
mas é também todo aquele,
que tão simples e miseravelmente,
foi abandonado pelos pais.

Mas ser órfão é muito mais que isso.

Ser órfão
é aprender a viver
sem o carinho, a compreensão e o calor do colo de uma Mãe,
e sem o abraço e o ombro amigo e seguro de um Pai.

Ser órfão
é não poder chamar “Mãe”.

Ser órfão
é não poder chamar “Pai”.

Ser órfão
é saber-se entregue a si próprio,
e sentir-se irredutivelmente desamparado,
por se saber só e vulnerável.

Ser órfão
é nunca estar preparado para a partida, sem retorno, dos pais.

Ser órfão
é viver com um grito de alegria preso,
sem poder partilhar os triunfos alcançados e as mágoas sofridas.

Ser órfão
é viver permanentemente com a alma a jorrar saudade,
do passado, do presente e do futuro.

Ser órfão
é ter de se erguer e caminhar vida fora,
sem partilhar com os pais,
risos, lágrimas, abraços e joelhos rasgados.

Ser órfão
é viver noites gélidas sem fim à vista,
é o vazio, é falta de ar, é desespero, é desgraça…

Ser órfão
é dor!
Ser órfão é,
nas palavras de Guerra Junqueiro,
não ter na vida aquilo que todos têm,
é como a ave sem ninho...
é qual semente perdida que, ao voltar do seu eirado,
o lavrador descuidado deixou tombar no caminho”.

Mas ser órfão é também
encontrar na esperança
e na alegria do seu semelhante,
força para ir povoando a alma.

Ser órfão é ser lutador e bravo,
de peito aberto para a vida, 
mas acolhedor e manso para ir atrás da felicidade.

Ser órfão
é viver com os olhos postos no céu
vendo nele três letrinhas mágicas,
MÃE,
PAI,
à espera que velem nós…