quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A LINHA VERMELHA

Já houve uma linha vermelha neste Governo, que culminou na sua maior crise e há agora outra a erguer-se no horizonte que se pode revelar a sua maior ameaça.
 
A primeira linha vermelha foi a que Paulo Portas traçou para rejeitar a ideia da "TSU dos pensionistas".
 
Uma linha que definia a tentativa do PP de capitalizar junto do seu eleitorado, apesar das medidas pouco simpáticas a que estava obrigado o Governo, numa atitude que atingiria o seu clímax com a saída de Vítor Gaspar e a demissão "irrevogável" de Portas, menos de dois meses depois.
 
A outra linha vermelha que ameaça o futuro político da maioria é a que separa a "austeridade suportável" da "austeridade acima das suas possibilidades". A linha entre achar aceitável levar com um "enorme aumento de impostos", até sair da "sua zona de conforto" para emigrar, mas considerar intolerável que os apertos coloquem em risco os cuidados que se espera que o Serviço Nacional de Saúde preste. É a linha que separa a vida da morte e, nas últimas semanas, tem sido, infelizmente, cruzada algumas vezes.
 
Paulo Macedo não deixou hoje de ser o ministro competente de ontem. O que acontece é que a sua competência resiste mal ao frio. A sua gestão rigorosa, as suas poupanças, os seus cortes, o seu congelamento de admissões, aguentam uma situação de normalidade, mas não sobrevivem ao descer de temperaturas e à subida do número de gripes.
 
O corpo emagrecido do SNS revela as suas fragilidades, tanto mais que o ministro, a exemplo do que fez o Governo, na maior parte das áreas, empenhou-se em cortar sem reformar. Um método bom para evitar atritos, quando aplicado gradualmente, mas incapaz de assegurar o funcionamento das instituições no longo termo.
 
Os portugueses podem ser pobres e mal-agradecidos em relação ao SNS, sempre disponíveis para reclamar, sem perceber o que foi conseguido nas últimas décadas. Mas vão ter muita dificuldade em perdoar quem atravessa a linha vermelha de esquecer o senso comum que diz: "o importante é a saúde, desde que tenhamos saúde tudo se aguenta".
 
David Pontes, aqui