quinta-feira, 19 de junho de 2014

BARAFUNDAS

Reina no país grande barafunda

É  o caso dos chumbos do Tribunal Constitucional (TC) e a defesa agressiva do PSD. É a guerra intestina no PS. Seguro fez saber que Costa, adversário hoje, amigo de ontem, só cheirou a liderança, quando viu que havia uma janela aberta para entrar na casa rosa, na cadeira do poder. Mas são assim todos, calculistas, ambiciosos. Os seus desejos de eleições directas, seguidas de Congresso Extraordinário, violam, segundo alguns, a Constituição. 

Ser presidente da câmara de Lisboa dá-lhe força. Não quer dizer que, só por isso, seja solução. Costa, ao encostar à esquerda, não gera certezas quanto a consensos futuros. Bem pregou Cavaco, no dia 10/7, que já não é dia da raça (isso para alguns cheira a bafio), tão somente de Portugal, Camões e Comunidades, exortando os partidos e políticos a compromissos e pacto de regime, até à discussão do Orçamento do Estado para 2015. 

Fez-lhes mais uma vez um apelo ao “sentido patriótico de responsabilidade”. Caso tudo isto caia em saco roto, é já costume, a par das “reformas indispensáveis ao reforço da competitividade da economia”, vaticina, “os portugueses poderão vir a pagar um preço muito elevado”. Como se tem visto, nenhum dos partidos do ferrugento arco do poder nega essa possibilidade, mas daí ninguém avança. 

Teimosos que nem mulas! As crispações têm concorrido para esse impasse. Ideal seria um acordo de médio prazo que “ultrapasse os mandatos dos governantes”. Muitos negam-se a ver que a nossa situação é de clara emergência nacional, o que tem levado o país a “algumas desigualdades acumuladas”, ao empobrecimento dos mais desfavorecidos e da classe média. Da barafunda fazem parte também as decisões do Tribunal Constitucional que Cavaco, enquanto PM, considerou “forças de bloqueio” e Durão Barroso “pior do que o Conselho da Revolução”, de que é uma emanação. 

Agora, não tem razão o PSD ao gritar que se enganou na escolha. Estavam a dormir. Não sabem ainda como tapar o buraco dos cortes. Saibam ao menos aproveitar alguma desorientação no PS. A campanha de Seguro e Costa mais parece a de dois partidos. De tudo isto sobram algumas verdades duras: 150 mil famílias por dia não pagam empréstimo da casa; Finanças penhoram por dia 189 habitações, a insolvência triplicou; 52 Câmaras em estádio de bancarrota. Se é por gestão danosa, deveriam ir a tribunal. E que vale a Cavaco clamar pela esperança se é morta todos os dias por esta gente, negligente como a cigarra no Verão?

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Junho de 2014