quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PAZ, BEM SUPREMO


No dia de ano novo, viveu-se o 47º Dia Mundial da Paz, que mereceu do Papa Francisco reflectidas considerações, tocando em muitas feridas que sangram pelo mundo por falta deste bem supremo

Começou por realçar que a fraternidade é o seu grande fundamento. Sem a consciência de que é este o grande alicerce que “nos leva a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã” e, sem esta “dimensão relacional”, “torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura”. 

É evidente, a paz tem de começar em cada um de nós e depois na relação com o outro que nos está mais próximo, criando assim uma cadeia de construtores da paz, de modo que, na diversidade de credos e culturas, se possa “formar um comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”. Infelizmente, o que vemos é o contrário, a nível de comunidades e países em guerras fratricidas, às vezes esquecidas pela “globalização da indiferença”, com raízes no individualismo, no egocentrismo e no consumo materialista. 

Mas para o Papa aos confrontos armados, “juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis (…) nos campos económicos e financeiros com meios igualmente demolidores” de vidas, famílias e empresas”. É pena que a globalização nos “torne vizinhos, mas não nos faça irmãos”. Esta realidade é o centro das “inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça” que indicam “não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade”, tanto mais que “as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai como seu fundamento último, não consegue subsistir”. 

Ora onde há “avidez do lucro” “ou “sede do poder”, não pode haver fraternidade e paz, mas exploração e pobreza. Remédios? Políticas eficazes e justas que promovam princípios de igualdade, “políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento”. Papa Francisco indica mesmo um caminho, “o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros” E objectiva: “as sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar de estilos de vida”.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 2 de Janeiro de 2014