Acordava a pensar nela. Vestia-se a olhar para ela.
Penteava-se nos olhos dela. Trazia-a ali, sempre ali, sempre presente.
E por isso, talvez, não sei ao certo, havia um quê de
equilíbrio, de ordem.
Ele movia-se muito depressa.
Parecia que ia cair, causar confusão e estrondo.
Mas não. Lá conseguia ajeitar-se.
Sorria, até, do seu ar atrapalhado.
Ninguém sabia (ninguém podia saber…) que ela estava noutro
tempo, sempre outro – mas no tempo certo.
Ela não queria, quer dizer, evitava prender-se.
A ele ou a qualquer outro.
Um dia soltou-se de vez, e caiu. Caiu longamente. Em câmara
lenta. Até que pousou.
Escolheu assentar nesse outro tempo que está para lá deste.
Daí via tudo, via todos.
E via-o a ele no meio de todos.
A Liberdade nunca é de um homem só.
Paira sobre nós.
Parece que é nossa. Mas o que está na nossa mão é deste
mundo.
E ela é do outro.