sábado, 14 de dezembro de 2013

CHUVA DE MAIO

O MUNDO NAS MÃOS
Acordava a pensar nela. Vestia-se a olhar para ela. Penteava-se nos olhos dela. Trazia-a ali, sempre ali, sempre presente.

E por isso, talvez, não sei ao certo, havia um quê de equilíbrio, de ordem.

Ele movia-se muito depressa.

Parecia que ia cair, causar confusão e estrondo.

Mas não. Lá conseguia ajeitar-se.

Sorria, até, do seu ar atrapalhado.

Ninguém sabia (ninguém podia saber…) que ela estava noutro tempo, sempre outro – mas no tempo certo.

Ela não queria, quer dizer, evitava prender-se.

A ele ou a qualquer outro.

Um dia soltou-se de vez, e caiu. Caiu longamente. Em câmara lenta. Até que pousou.

Escolheu assentar nesse outro tempo que está para lá deste.

Daí via tudo, via todos.

E via-o a ele no meio de todos.

A Liberdade nunca é de um homem só.

Paira sobre nós.

Parece que é nossa. Mas o que está na nossa mão é deste mundo.

E ela é do outro.