quarta-feira, 25 de setembro de 2013

OS UMBIGOS DAS AUTÁRQUICAS

Milhares de portugueses dão corpo a listas para as eleições autárquicas do próximo domingo

Tal envolvência justifica referências elogiosas, em nome de uma apreciável conjugação de direitos e deveres de cidadania. Estamos, então, conversados sobre o politicamente correto.

A menos de uma semana do povo sufragar as várias propostas, impõe-se, no entanto, aprofundar a reflexão sobre os meses e meses de campanha eleitoral já consumidos. E o balanço, francamente, não é pobre - é paupérrimo.

Há pouco mais de dois anos, como é sabido, havia um pressuposto no horizonte: a redução do mapa autárquico, consagrado no memorando assinado com os credores internacionais, em nome da diminuição drástica de custos e ganhos de escala. 

A falta de coragem para combater interesses partidários instalados resultou numas meras "cócegas", pela via mais discutível, sobretudo num interior cada vez mais inóspito: a da junção de algumas freguesias. O número de câmaras municipais ficou inalterado, não fossem os baronatos locais fazer das suas....

Parecerá uma esquisitice, mas não: essa incapacidade da reforma autárquica passar pelos fortes e não apenas pelos fracos fixa uma parte do lamentável quadro da atual campanha.

Num país sem dinheiro para mandar cantar um cego, a generalidade dos candidatos às autarquias dispõem de programas voltados para os seus próprios umbigos concelhios, prometendo tudo a todos. Como se a austeridade imposta de fora para dentro se limitasse à aplicação no Poder Central. Pior: como se a maioria das câmaras municipais tivesse os cofres a abarrotar.

Carregar nas tintas das promessas, dir-se-á, faz parte de qualquer campanha eleitoral. 

Será. Mas o índice de demagogia deveria estar mitigado na razão direta das dificuldades por que passa o país.

O excesso das promessas de cariz megalómano entronca num défice em matéria essencial: a articulação e o entendimento para projetos supra ou intermunicipais, especialmente nas grandes zonas urbanas. O que defendem os candidatos em matéria de agregação de rede de transportes? E de recolha de lixo? E de potenciação de piscinas e pavilhões municipais às moscas? E de rede escolar? E, e? Zero! O tal lado umbiguista é transversal e inexistem as propostas - até lançamento de reptos - aos candidatos do município do lado. Uma tristeza.

Felizmente, a campanha eleitoral está já na última semana.

Faltam poucos dias para se encerrar um ciclo em teoria virtuoso, mas para o qual pouquíssimos candidatos foram capazes, pelo menos até agora, de se mostrar credíveis.

A confrangedora falta de qualidade da campanha eleitoral só encontra eco, aliás, no modo esquizofrénico como os líderes partidários se têm comportado. Nos almoços e jantares de carne assada são incapazes de uma só palavra sobre regionalização, quadros comunitários de apoio, descentralização administrativa, o que quer que seja de enfoque mais local. 

Andam feitos tolinhos de um lado para o outro a berrar um passa-culpas de âmbito nacional sobre desemprego, cortes nos apoios sociais, sim ou não a um segundo resgate do país e por aí fora. Em plenas autárquicas, parece estarem em campanha de eleições legislativas. 

Uma tristeza.

Retirada daqui