quarta-feira, 25 de setembro de 2013

LEVIANDADE, LIGEIREZA E INCÚRIA: OU SERÁ MESMO PURA IGNORÂNCIA?

Já todos sabíamos que a câmara municipal de Oliveira do Bairro não morre de amores pelo uso correcto da língua portuguesa: custa a crer, mas é verdade!

Basta aliás, lembrar o que aqui ficou dito a propósito da inserção de erros ortográficos crassos em documentos oficialmente emitidos por um município que tão séria aposta faz na educação.
  
Eis que agora, naquele que é o registo para memória futura da presença no concelho do mais alto representante do governo da nação, onde um acto de Estado foi rebaixado ao mais bacoco e demagógico eleitoralismo político-partidário, o muncípio de Oliveira do Bairro consigna para a posteridade e em dose dupla (2 placas!) que a ignorância da língua pátria é, também, uma imagem de marca do seu executivo municipal a qual, logo no momento, não passou incólume ao estupefacto olhar do Dr. Passos Coelho, como se confirma pela envergonhada expressão que o primeiro-ministro ostenta na foto oficial divulgada pelo site municipal.

De facto, apregoar aos quatro ventos que «temos as melhores escolas da país» e consagrar, com inadmissíveis erros ortográficos a presença no concelho do primeiro-ministro do país, mostra a todos que ‘a bota não bate com a perdigota’.

Numa altura em que o descerramento das placas, seja de inaugurações seja de reinaugurações, tem lugar cativo na programação dos eventos que vão proliferando à medida dos interesses eleitorais, só a leviandade e a ligeireza de actuação (ou será que é mesmo pura ignorância?) podem ter determinado que uma das mais elementares regras do novo acordo ortográfico (adoptado pelo município nas comunicações institucionais e que infra se transcreve) tenha sido tão abjectamente ultrapassada.

Parece assim claro que investir numa quantidade desmesurada de equipamentos escolares, só significa investir na educaçãopara quem faz do betão armado o instrumento do seu poder!

E se é verdade que, tal como na ocasião referiu o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, 'não é preciso ter equipamentos de luxo para haver uma educação de qualidade", é igualmente verdade que o conhecimento das regras que regulam a escrita da nossa tão  maltratada língua pelos titulares dos cargos públicos, pode muito bem começar a ser visto como um verdadeiro luxo: basta estar atento ao teor das mensagens que vão sendo pessoalmente escritas pelos candidatos às nossas autarquias locais, para perceber que não está longe o tempo em que o correcção ortográfica será uma das principais funções dos ocupantes dos gabinetes de apoio pessoal dos nossos futuros autarcas... 

Tendo confirmado à comunicação social que tinha sido convidado para inaugurar dois estabelecimentos de ensino, o Dr. Pedro Passos Coelho esteve, isso sim, envolvido em duas polémicas reinaugurações, numa visita ao concelho de Oliveira do Bairro onde acabou também por ser vítima da incúria (ou será que é mesmo pura ignorância?) de quem o sujeitou a tão inaudita presença.

Há dias assim...

Mas como quem convida para (re)inaugurar pela segunda vez certamente não se fará rogado para convidar para inaugurar por uma terceira vez, aguarda-se que um dia destes  o Dr. Passos Coelho regresse às escolas de Troviscal e Bustos, para descerrar placas onde a sua identificação como o primeiro de vários ministros do Governo seja substituída pela designação do cargo que efectivamente exerce: o de primeiro-ministro do governo da república.

Depois da controvérsia suscitada na sua primeira e única presença oficial no concelho, será, com toda a certeza, mais uma (outra!) oportunidade para não mais esquecer Oliveira do Bairro!

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Teor da regra que está na base XV do Novo Acordo OrtográficoEmprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc