O BOLO REI
O bolo-rei tomava-se muito a sério. Não havia discussão: ele era o rei dos bolos. 
Como tal, quando lhe caiu uma passa da coroa, ordenou ao bolo-inglês: 
- Traz-me essa passa de volta. 
O bolo-inglês fez-se desentendido e respondeu: 
- Sorry! I don?t understand... 
O que queria dizer na dele que pedia desculpa, mas não tinha entendido. 
Então, o bolo-rei virou-se para um bolo de natas e deu a mesma ordem. Queria, outra vez, a passa a ornamentar-lhe a coroa. 
O bolo de natas tinha uma fala atrapalhada, por causa do excesso de natas. 
- Flá, plefe, pflu, pfló... 
Não se percebia nada. 
O bolo-rei, muito irritado, ordenou ao bolo de amêndoa, que lhe respondeu: 
- Também a mim me caiu uma amêndoa torrada e não me queixo. 
O bolo-rei, cada vez mais exasperado, deu a mesma ordem a um pudim de gelatina, mas o pudim de gelatina era muito frágil, muito nervoso e só tremeu, tremeu, incapaz de dizer ou fazer o que quer que fosse. 
- São uns rebeldes estes meus súbditos - concluiu, numa grande exaltação, o bolo-rei. 
- Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
- Condeno-os a que sejam todos cortados às fatias.
E assim aconteceu. 
Mas nem o bolo-rei escapou.
António Torrado e Cristina Malaquias, aqui
