quinta-feira, 25 de abril de 2013

INTERVENÇÃO DE ANDRÉ CHAMBEL NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE OLIVEIRA DO BAIRRO

Exmo. Sr. Presidente da Mesa da Assembleia Municipal
Sra. e Sr. Secretários
Caras e Caros Colegas Membros da Assembleia Municipal
Sr. Presidente da Câmara Municipal
Sras. e Srs. Vereadores
Autarcas e Ex-Autarcas
Reverendo Padre
Exmo. Representante das Autoridades
Exmos. Representantes das Associações
Exmos. Representantes e Membros da Liga dos Combatentes
Membros da Comunicação Social
Concidadãos e Oliveirenses
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quando vemos, mais uma vez, os ditos proprietários da Revolução recusarem participar nas cerimónias oficiais do Estado Português, vemos um grupo de até aqui notáveis ex-militares que parecem não estar satisfeitos com o resultado daquilo que de mais notável nos deram: a Democracia.


O Estado Democrático, pela força e legitimidade do voto, foi uma conquista de Abril e só uma nostálgica pretensão de propriedade pode justificar (se justificável) este abandono.

Com a Democracia veio o direito e o dever à participação.

E é também de Dever que quero falar-vos aqui hoje.

"Não há sociedade possível sem o dever (…)” (Lamennais , Hughes)

O dever é, para a maioria da população de hoje, o incómodo da democracia. Mas só os incomoda o seu próprio dever, porque o dever dos outros é obrigatório e indispensável. Tanto que, se o outro não cumprir o seu dever, são os meus direitos que são postos em causa.

Mas "o mais difícil não é cumprir o dever, é conhecê-lo." (Bonald , Louis)

Para a sociedade saída do 25 de Abril de 1974, o maior direito conquistado foi a Liberdade. E com esta o direito universal ao voto. E com este a livre escolha democrática.

E o direito ao voto assumiu, para esses portugueses, o estatuto de dever. Dever quase sacrossanto.

Caras e Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quando ainda militava na Juventude Centrista / Gerações Populares fui convidado pelo então Presidente da Junta de Freguesia de Oliveira do Bairro, o Sr. Romão, para fazer parte das Mesas de Voto. Considerei o convite um dever a assumir, assim como um privilégio.

Pude, desde então, verificar a solenidade que algumas eleitoras e eleitores, mais velhos – “do tempo da outra Senhora” – colocam no exercício do seu direito e dever de eleger, de participar.

O acto é tanto mais solene para alguns que, por dificuldades de visão, por não saberem ler, ou por qualquer outra razão, se sentem incapazes, ou muitas vezes inseguros, para o fazerem sozinhos.

Ao pedirem, muitas vezes a desconhecidos, que por única marca de confiança é terem a responsabilidade de gerir a imparcialidade do acto eleitoral, colocam nas suas mãos o seu bem democrático mais valioso – a sua vontade de participar, o seu voto.

Mas o dever em Democracia não fica apenas cingida ao voto, em eleger.

O dever passa também pela participação política activa, em ser eleito.

Não em conseguir ser eleito, mas em se disponibilizar para dar a cara, para ir à luta pelos seus ideais e pelas suas opiniões, em fazer parte das listas concorrentes a eleições. Este é um dever de cidadania – participar, ser um elemento do acto democrático.

Para quem tem a oportunidade de exercer um mandato, um outro dever assume – “cumprir com lealdade as funções que lhe são confiadas.”

Todos nós, autarcas, prestámos este juramento.

Caras e Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Na nossa acção política – não lhe chamo actividade – temos sempre de ir balanceando entre os direitos e os deveres. Salvaguardamos os nossos direitos para podermos cumprir os deveres. Cumprimos o nosso dever para salvaguardar os direitos dos outros.

E o nosso dever é cumprir com lealdade as suas funções que nos são confiadas. Dever, 

Cumprir, Lealdade. É por estas premissas que devemos orientar a nossa acção.

Dever de lutarmos por um mundo melhor, não para nós, mas para os outros. E fazê-lo segundo as nossas ideias, os nossos valores e na linha das orientações ideológicas e programáticas pelos quais fomos eleitos.

Quando nos candidatámos, fizemo-lo integrando uma lista com outras pessoas, colegas, camaradas, amigos – como queiram. Fizemo-lo ainda sob a sigla de uma organização política – seja ela partidária ou um movimento civil.

Ao sermos eleitos devemos ter consciência que o fomos porque os eleitores entenderam que aquela orientação ideológica, aquele manifesto de intenções ou programa eleitoral – como queiram – e aquelas pessoas eram com que mais se identificavam.

Assim sendo, para cumprirmos com lealdade as nossas funções, devemos ser leais à linha ideológica, à linha programática e à nossa própria consciência e valores.

E quando refiro lealdade, não o faço no sentido da lealdade férrea às orientações partidárias – que também a deve haver; falo de lealdade entre nós: cidadãos, eleitos, autarcas. Lealdade à nossa consciência, na premissa do sistema democrático e no respeito pelo outro, concordemos com ele ou não.

Sobre este aspecto recordo aqui um episódio passado no meu primeiro mandato como Membro desta Assembleia, já lá vão 15 anos. Eu era ainda muito novo - ainda o sou um pouco – e proferi uma das minhas primeiras intervenções.

Lembro-me que a discussão versava mais no ponto de vista ideológico do que propriamente num assunto normal numa Sessão de Assembleia Municipal. Na altura, da Assembleia, fazia parte o saudoso Dr. Fernando Peixinho, representando a CDU.

Ora, sendo eu do CDS, Monárquico, Conservador e Precursor da Doutrina Social da Igreja, para uma pessoa nos terrenos políticos em que se situava o Dr. Peixinho, tudo o que pudesse dizer numa discussão ideológica, não seria decerto do seu agrado, convenhamos.

No entanto, no final da Assembleia, com aquela característica humanista que o definia, disse-me: “Não concordo com nada do que disse, mas disse-o muito bem. Parabéns!”.

É a esta lealdade democrática e a este cumprimento do dever de respeitar o direito à opinião dos outros que gostava de ressalvar.

Caras e Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Esta intervenção não é de despedida, pelo menos não é a da minha despedida, apesar de um pouco catártico,… mas tenho-vos falado de Dever, de Cumprir e de Lealdade e "por vezes é penoso cumprir o dever, mas nunca é tão penoso como não cumpri-lo." (Bonald , Louis)

Poucos dos presentes o saberão, mas meu principal oponente nesta casa, não é o Presidente da Câmara, nem os Vereadores. Não é, por certo, o Sr. Presidente da Mesa da Assembleia, que muito respeito.

O meu principal opositor nesta casa é o Membro da Assembleia Nuno Barata.

Juntamente com o Membro da Assembleia Armando Humberto Pinto, somos os três Líderes de Bancada.

O Armando, do PS, eu, do CDS e o Nuno do PPD/PSD.

E sem desprimor pelo Líder da Bancada do PS, é com o da do PPD/PSD que travo os mais estimulantes combates políticos, em intervenções iniciais e finais, no decorrer normal do debate, em pedidos de intervenção para dar ou pedir esclarecimentos, em pontos de ordem à mesa… enfim, usando os expedientes regimentais possíveis – alguns deles são bem esticadinhos -  para cumprirmos com lealdade as funções que nos foram confiadas, por vezes com imensa paciência e condescendência da parte do Sr. Presidente da Mesa, convenhamos.

Se me permitem, recordava um momento passado após uma acesa discussão tida em 2006 entre mim e o Líder da Bancada do PPD/PSD na Sessão da Assembleia da votação do Orçamento do Município para 2007. O esgrimir de argumentos entre os dois e o modo como o fizemos, levou a que a jornalista do Jornal da Bairrada que fazia a cobertura da Assembleia ficasse com a ideia de que teríamos um pelo outro um sentimento da maior malvadez.

No dia seguinte à Assembleia, encontrei-a por acaso, e a jornalista, amiga comum dos dois, confidenciou-me que tinha ficado com a impressão que entre nós decorria uma inimizade insanável, a julgar pela forma como tínhamos debatido na noite anterior.

Concordei que sim, que poderiam ficar com essa ideia. No entanto, disse-lhe, nada diria que o Líder da Bancada do PPD/PSD ia ser Padrinho do meu Casamento.

Caras e Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

O combate político que travamos, não impede a amizade e o respeito, antes pelo contrário. A amizade e o respeito levam a que aceitemos que a Lealdade ao Cumprimento do Dever nos faça ouvirmos o que não defendamos ou concordemos como uma extensão da vontade popular que nos elegeu a todos, sem excepção.

A amizade, nestas circunstâncias, tem apenas um limite: o limite aceite de que para cumprirmos com lealdade as funções que nos são confiadas não podemos, em certas alturas, ter a cumplicidade fraterna de que gostaríamos.

Infelizmente, o dever de lealdade não é recíproco entre todos os níveis de decisão política e eu perderei um opositor político e esta casa um orador brilhante.

Mas reaveremos a cumplicidade da amizade.

Caras e Caros Colegas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Cumprir com lealdade as funções que nos são confiadas é não esquecer que devemos aos eleitores o privilégio de nas nossas mãos colocarem a sua confiança para perseguirmos um mundo melhor para eles próprios.

Não indiferentes às nossas convicções políticas é assim devemos ver o nosso mandato.

É assim em Democracia: direitos e deveres.

Cabe-nos a nós, cumprir o nosso.

Obrigado.


Oliveira do Bairro, 25 de Abril de 2013

André Chambel
(Líder da Bancada do CDS-PP na Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro)