sexta-feira, 8 de maio de 2015

A COLIGAÇÃO PSD / CDS, SOMA OU SUBTRAI?

Foi ponderado o risco de uma parte do eleitorado potencial dos dois partidos ter menos propensão a votar na coligação do que teria caso o seu partido preferencial fosse a votos autonomamente?
 
O final do dia 25 de Abril ficou este ano marcado pelo anúncio de que PSD e CDS concorrerão coligados às próximas eleições legislativas. O anúncio público não surpreendeu mas serviu para terminar com a incerteza ainda existente a esse respeito.
 
Considerando que os dois partidos partilham responsabilidades governativas nesta legislatura, a coligação faz algum sentido na perspectiva de possibilitar aos eleitores pronunciarem-se sobre a governação dos últimos quatro anos e sobre os programas para os próximos quatro.

Curiosamente, no entanto, as muitas vozes que se fizeram ouvir nos últimos meses defendendo a inevitabilidade ou necessidade absoluta de uma coligação invocaram argumentos de outra natureza, nomeadamente de cálculo e táctica eleitoral. Ora, nesse domínio, está longe de ser claro que a coligação entre PSD e CDS seja uma boa ideia. Para avaliar o potencial positivo e negativo da coligação vale a pena reflectir sobre as suas principais implicações do ponto de vista eleitoral.

Um dos argumentos mais invocados é que a coligação tem mais hipóteses de ficar à frente do PS do que o PSD num cenário em que concorresse isoladamente. Matematicamente, é difícil contestar o argumento mas só por si não chega para justificar a coligação. Ganhar as eleições (no sentido de eleger mais deputados do que a segunda força política) é certamente muito importante, mas está longe de garantir um cenário de governabilidade. Assim como nada garante relativamente aos efeitos de médio e longo prazo sobre a implantação eleitoral do PSD e do CDS.

Outro dos argumentos diz respeito ao melhor aproveitamento que a coligação tenderá a permitir na conversão de votos em mandatos, em especial nos círculos eleitorais de mais reduzida dimensão.

Mais uma vez, do ponto de vista matemático, o argumento é sólido, mas enquanto táctica eleitoral só faz sentido se se admitir adicionalmente que a coligação tem condições para ter um total de votos pelo menos semelhante ao que teriam PSD e CDS concorrendo separadamente. Ora é precisamente isso que está longe de ser uma certeza.

De facto, a prudência aconselha a que, além dos argumentos de pura contabilidade eleitoral apresentados, seja ponderado também o risco de uma parte do eleitorado potencial dos dois partidos ter menos propensão a votar na coligação do que teria caso o seu partido preferencial se apresentasse a votos autonomamente. Se por um lado a coligação poderá favorecer a dinâmica interna da campanha (por exemplo evitando ataques entre PSD e CDS que seriam inevitáveis num contexto de candidaturas autónomas), não é menos verdade que a candidatura conjunta se torna num alvo mais fácil e será um ponto focal para todos os ataques externos.

Adicionalmente, importa considerar também os potenciais efeitos da coligação a médio e longo prazo. Ao conseguir fazer vingar o princípio de tomar como base para a distribuição de lugares nas listas os resultados de 2011, o CDS fez inequivocamente um excelente negócio no curto prazo, já que dificilmente conseguiria repetir esse resultado em 2015. No entanto, num horizonte temporal mais alargado, poderá ser o PSD quem mais tem a ganhar já que a coligação aumenta substancialmente o risco de o CDS ver ainda mais fragilizada a sua implantação a nível nacional e ficar numa situação de inviabilidade enquanto partido autónomo a médio e longo prazo.

Na prática, há ainda um outro factor que será decisivo para as possibilidades de sucesso da coligação: o desempenho do PS. A este respeito, os últimos meses têm sido francamente favoráveis ao PSD e ao CDS. Em última análise, o melhor aliado da coligação poderá mesmo vir a ser a dificuldade do PS em afirmar-se como alternativa governativa credível aos olhos de grande parte do eleitorado.

André Azevedo Alves, aqui