segunda-feira, 15 de abril de 2013

GASPAR, 'VICTOR'


1 Durante estes quase dois anos, o primeiro-ministro defendeu Miguel Relvas contra tudo e contra todos

Não houve incompetência grosseira que Passos Coelho não avalizasse, não houve mentira descarada que lhe não perdoasse, não houve equivalência académica suspeita que o preocupasse. 

 Felizmente, o não-assunto académico chocou com um ministro corajoso e não houve maneira de Passos Coelho segurar a sua alma gémea no Governo.

Com Vítor Gaspar é a mesma coisa: não há clamoroso erro, não há falha gritante no atingir de metas, não há desvio colossal, não há disparar do desemprego, não há agravamento do buraco nas contas públicas, não há recessão, não há teimosia contra a Constituição que não aumente o poder do revolucionário ministro. 

E como Vítor Gaspar precisou de fazer exame a mais de três cadeiras para se licenciar, vamos continuar, contra todos os factos, contra todas as evidências, a ver o seu poder crescer. Pode o primeiro-ministro ver as pessoas a desesperar sem emprego e sem dinheiro, a miséria a crescer nas ruas, em resultado da política criminosa de Gaspar e camaradas troikanos, que não o deixará de acompanhar de lira em punho enquanto o País arde aos seus pés. 

Talvez até convide os ministros alemães, finlandeses e outros tratantes europeus para assistir ao espectáculo. Os tais que se atrevem a mandar bitaites sobre os nossos assuntos, sem que o nosso primeiro-ministro ou o nosso Presidente da República se indignem e os mandem abaixo de Braga.

Depois de mais um chumbo no Constitucional e quando já toda a gente sabe da catástrofe na execução orçamental do primeiro trimestre que será anunciada dia 23, nada melhor que mais uma exibição do poder de Gaspar.

Começou com a ida de Passos Coelho e de Vítor Gaspar a Belém. A que propósito foi também o ministro das Finanças? Passos Coelho não era capaz de explicar a posição do Governo? Quem foi cobrir quem? Passos Coelho, Vítor Gaspar ou Vítor Gaspar, Passos Coelho?

Depois, a comunicação ao País do primeiro-ministro em que este, de forma cristalina, explicou que estava tudo a correr às mil maravilhas, mas que o Tribunal Constitucional tinha estragado a fantástica obra feita e a fabulosa em preparação. Um discurso para a história, aliás. Mentir descaradamente aos portugueses e fazer do guardião da Constituição o principal inimigo é obra. Talvez tentar negociar, talvez aproveitar estes dinheiritos e devolvê-los à economia. Nada disso. A cartilha de Gaspar não deixa e essa é sagrada.

Para concluir a gloriosa semana de Gaspar tivemos o já famoso despacho em que todas as despesas do Estado não contratadas (também era melhor) ficam dependentes da autorização do ministro até ver. Ou seja, um verdadeiro estado de excepção.

Claro que ninguém acredita na parte do despacho em que se refere que ficava tudo suspenso por causa do acórdão do Tribunal. Se houvesse um despacho destes por cada desvio orçamental já nem respirar se podia sem a autorização de Gaspar. Em frente, as mentiras já são tantas que para a nossa sanidade mental é melhor esquecermos algumas.

Compreende-se o despacho: os outros ministros são incompetentes e precisam de ser levados pela mão pelo infalível Gaspar. Entende-se: os camaradas europeus do ministro, os revolucionários que vão construir o homem novo, precisam de saber que é ele que manda para aliviarem os prazos de pagamento da dívida.

E ainda havia quem julgasse Gaspar remodelável.

2 Se o impressionante curriculum de Miguel Poiares Maduro como académico e conselheiro lhe tiver dado capacidade para executar políticas no terreno, para coordenar politicamente o Governo, para negociar com as autarquias, para tratar da comunicação do Executivo, para implementar o QREN, para tutelar a comunicação social e mais umas tantas tarefas, o Governo fez uma excelente aquisição.

Se o novo ministro conseguir mudar a opinião de Gaspar e Passos sobre o caminho que a Europa deve tomar - é defensor, por exemplo, dos eurobonds - e conseguir impor algumas das suas ideias sobre comunicação social - defende que devemos conhecer os verdadeiros donos dos media - já não era nada, mesmo nada, mau.

Que o Governo ganhou com a troca não há dúvida. Que é o oposto total a Relvas também. 

Já não é pouco.

Digamos que para um homem com muita experiência política e habituado a gerir dossiers complicados não seria nada fácil; para alguém que vai ter esse tipo de experiências pela primeira vez, ainda para mais nas presentes circunstâncias, será ainda mais difícil.

3 Como seria de esperar não houve remodelação. Mais uma vez o CDS ficou a falar sozinho.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Pedro Marques Lopes, aqui