Foi pública uma declaração do sr. presidente da assembleia
municipal de Oliveira do Bairro, na qual acusou o executivo camarário de “ter
assinado de cruz” um parecer sobre um plano de pedreira situada na Palhaça.
A expressão não terá sido muito feliz, mas compreende-se face
ao que não é tornado público através das Atas das reuniões do executivo
camarário. É que o sr. presidente da câmara entende que os cidadãos não
precisam de saber mais do que os assuntos tratados, quem usou da palavra, e
qual a votação. O que se discutiu, as próprias declarações de voto, o sr.
presidente da câmara acha que não é interessante nem para os munícipes, nem
para os restantes órgãos autárquicos.
E desta continuada falta de sentido democrático do sr. presidente da câmara resultou, a meu ver, que o sr. presidente da assembleia, ao consultar a Ata da reunião em causa, encontrou uma unanimidade na aprovação, e um vazio quanto à discussão, o que o levou a supor, digo eu, terem assinado de cruz.
E desta continuada falta de sentido democrático do sr. presidente da câmara resultou, a meu ver, que o sr. presidente da assembleia, ao consultar a Ata da reunião em causa, encontrou uma unanimidade na aprovação, e um vazio quanto à discussão, o que o levou a supor, digo eu, terem assinado de cruz.
Como se sabe agora, e porque desta vez o sr. presidente da
câmara decidiu posteriormente transcrever na íntegra o que se passou na reunião
de 31 de Janeiro (pensando dessa transcrição retirar proveitos políticos), os
vereadores da oposição discutiram o assunto, dentro da informação que lhes foi
fornecida, que costuma ser quase nenhuma (o lema do sr. presidente da câmara é:
quem quiser que venha consultar a documentação…), e, desconhecendo todo um
manancial de informação existente, e acreditando, de boa fé, nos pareceres que
lhes foram dados, aprovaram por unanimidade o tal parecer.
Hoje, porém, face ao desenvolvimento público do assunto, que
levou à solicitação da documentação, que a muito custo foi facultada
(não a todos mas sim só a “quem soube pedir”, dizem) é possível verificar a
quantidade de informação que não foi prestada aos vereadores, pelo menos aos da
oposição.
Sr. presidente da câmara.
1. Que a Direção Regional da Economia do Centro
enviou em 29 de Outubro de 2012 um ofício que pede para que seja emitido
parecer ao abrigo dos DL270/2001 e DL340/2007, e que no caso de pretender
formular reservas tinha 20 dias para o fazer?
2. Da razão pela qual o ofício da DREC rececionada
na Câmara em 31/10/2012 só deu entrada na Divisão de Serviços Urbanos da Câmara
em 02/01/2013, quando o prazo dado pela DREC para emissão de parecer era de 20
dias?
3. Se o parecer que estavam a dar era válido,
uma vez que o prazo de 20 dias desde a entrada do pedido de parecer já há muito
se havia esgotado, e, por consequência da legislação antes referida, a falta de
parecer dentro daquele prazo equivale a parecer favorável?
4. Do teor do parecer favorável para enchimento com
resíduos inertes não contaminados, que o executivo diz ter?
5. Que o sr. presidente de junta da Palhaça respondeu
não ter opinião sobre o assunto?
6. De qual foi o parecer do sr. presidente de junta
de Bustos?
7. Que existia um projeto de exploração e
enchimento, elaborado pela empresa requerente, que não chegou às mãos dos
vereadores da oposição?
8. Que 37,5% da área do projeto em causa está na
freguesia de Ouca, logo concelho de Vagos?
9. Que, afinal, a pedreira em causa ainda se
encontra em fase de extração, e que, no projeto apresentado e do
desconhecimento dos vereadores da oposção, se prevê que a exploração dure mais
6 anos? A este propósito, inclusive, é sugerido que a extração terminou porque,
disse o sr. vereador do pelouro, “… isto era um barreiro em que foi atingida a
cota máxima de exploração…”´
10. De que durante os tais 6 anos de exploração está
prevista a extração de 400.000 toneladas por ano, que correspondem a uma média
de 51 camiões por dia, durante 6 anos?
11. De que estão contemplados resíduos de lamas
cerâmicas, e que podem ser aterrados, também, materiais como metais, amianto,
plásticos, substâncias químicas, “…até um certo nível…”?
12. De que o Plano de Monitorização do projeto em
causa apenas prevê, na prática, como medida efetiva, o controlo visual dos
resíduos?
13. De que, ainda no mesmo Plano de Monitorização,
não há nenhuma medida prática no controlo das águas subterrâneas porque, diz a
empresa “… só irá depositar resíduos que tenham sofrido uma prévia triagem…”(e
quem garante?)?
14. De que estão estimados 2,5 milhões de m3
de inertes, a que correspondem cerca de 125.000 camiões em circulação?
15. De que a previsão (otimista) da empresa para a
finalização do projeto apresentado é de 32 anos, mas, mesmo assim, sem qualquer
compromisso, e dependente das condições de mercado?
16. De que o projeto, afinal, prevê a criação de uma
lagoa, aquilo que os vereadores da oposição queriam evitar, nomeadamente o
Henrique Tomás?
A todas estas perguntas a mesma resposta: NÃO
E já agora, sr. Presidente, faz ideia de onde se irão obter
os 2,5 milhões de m3 de inertes? Da construção civil, que se
encontra parada? Das empresas cerâmicas? Destas últimas também não creio pois
este tipo de inertes é passível de reciclagem e valorização, e ao abrigo do
artigo 7º do citado DL183/2009 devem ser recusados para aterro.
Aliás, a própria tabela nº 1 da parte B, do anexo IV apenas
especifica a admissão de tijolos, telhas, ladrilhos… que sejam RCD (resíduos de
construção e demolição).
Assim, e em jeito de conclusão, para além da evidência da
quanta informação não foi apresentada aos vereadores da oposição, e que é
prática corrente deste executivo, importa esclarecer que eu também gostaria que
a solução final fosse a reposição da morfologia original do terreno.
No
entanto, para além dos riscos derivados do facto do aterro ser controlado por
uma empresa privada (bem sei que o ministério do ambiente tem a “obrigação” de
controlar), cujos objetivos, obviamente, são o lucro, e para além da
perturbação para as populações (e estradas) que o trânsito previsto de 225.000
camiões representa, eu não acredito que este projeto seja feito em 32 anos, ou,
pior, que algum dia venha a ser concretizado pela empresa requerente.
O sr. leitor acredita?
Manuel Bôrras
Presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Oliveira do Bairro