Jornal da Bairrada, na sua edição de 09.08.2001, dá à estampa o mesmo texto publicado em 12.2.2000.
Ao que parece não apareceu alguém que pudesse prestar esclarecimentos que contribuíssem para se fazer luz sobre a origem, ou a razão de ser, ou ainda apresentar o titular a quem o Brasão do Silveiro terá pertencido, e que continua a exibir-se na casa que pertenceu, mais tarde ao meu bisavô, Augusto Valério Ferreira Pinto Basto.
Pouca luz posso fazer sobre esse assunto, visto que quem poderia ter sabido algo de interesse já não pertence a este mundo.
Não deixo de aqui referir uma pequena conversa com a minha mãe, neta de Augusto, sobre a divergência
dos brasões do meu bisavô, daquele que se exibe, porquanto não fora Augusto quem tinha vivido por último naquela casa. A minha mãe fez-me saber que o brasão exposto tinha pertencido aos "Cabrais", e nada tinha a ver com o seu avô.
E quem foram os "Cabrais"? Em 1801 e 1803, nasceram em Fornos de Algodres, José Bernardo da Silva Costa Cabral e António Bernardo Costa Cabral, respectivamente. O primeiro interveio na Vilafrancada e, por ter aderido à causa liberal, exilou-se, vindo a falecer em Lisboa em 1869. O segundo, um dos Bravos do Mindelo e um dos chefes do movimento constitucionalista de 1842, ocupou várias pastas no Governo até que em 1849 veio a ser presidente do concelho.
Mas o seu temperamento, enérgico e despótico estabeleceu uma política opressiva a que chamaram "cabralismo" e que veio a motivar motins no Minho, insurreição em Aveiro, o levantamento da Maria da Fonte e formação de juntas governamentais em Aveiro e em Coimbra, de que foi membro Augusto Valério. Os "Cabrais" caem em 20 de Maio de 1846.
Não é possível estabelecer a relação entre estes dois Cabrais, bem como impossível é saber se algum deles seria aquele a que a minha mãe se refirira. Falta, portanto, estabelecer esta relação, e se, efectivamente, o brasão em causa terá pertencido a algum destes Costa Cabral.
Falta analisar desde quando o brasão ali está colocado.
Em 1826, Augusto parece estar em Ílhavo, onde vai nascer a sua filha natural Emília Augusta, em Abril de 1827. Em 1830, viaja para a França onde estagia em Sévres e provavelmente na Áustria para estudar vidro. E, já em 1838, nasce no Silveiro a sua filha primogénita, Maria Amélia, e depois os restantes fìlhos, Heurique, Gustavo, Júlio e Viriato.
O brasão já teria mais de 35 anos, pelo que se aceita as possibilidade de terern efectuado venda (Sic). É também, de admitir que Fornos de Algodres é perto de Silveiro, considerando as vastas regiões pertencentos a notáveis de então.
Teriam sido, efectivamente alguns destes Cabrais os senhores desta região e, por consequência, a algum deles dirá respeito o célebre brasão?
E sobre este assunto não posso ir mais além. Acerca da fabricação de vidro na Vista Alegre, em 1824 o meu trisavô José Ferreira Pinto Basto obteve um alvará para erigir uma grande fábrica de loiça, polrcelana e vidraria; e, em 1827 já havia três fábricas: a de porcelana, de vidros e de produtos químicos; e, em 1835 já o fabrico de vidros tinha atinlido um elevado grau de perfeição. E já havia marcas de punção de 1824 - 1826 V.A.
Recordo-me de ter havido em casa do meu avô Henrique um medalhão de vidro claro, com a efigie da Rainha D. Maria II, ao centro, em vidro fosco.
Não deve estar perdido; admito que esteja em poder de algum herdeiro legítimo, ou herdeiro que se fez, dadas as transmissões de bens que houve, sobretudo ultimamente.
Quanto à casa, todas as considerações expostas não dispensam uma consulta à Repartição de Finanças de Oliveira do Bairro, porquanto alguém pagará, certamente, contribuição autárquica. Não conheço seu actual proprietário; mas ainda não há muitos anos, ela pertencia a Lucindo Malta.
Com elementos forrnecidos por aquela Repartição, a Conservatória do Registo Predial tem os nomes de todos os proprietários antecedentes, alguns dos quais em registos já guardados no Arquivo Dìstrital de Aveiro, que se disponibiliza agradavelmente a fornecer fotocópias dos mais antigos registos.
Alberto Ferreira Pinto Basto Esteves, no ‘Jornal da Bairrada’ de 16 de Setembro de 2001