A morte paira sobre nós a cada instante.
Quase a podemos respirar. Muitos não se dão conta de que estamos sempre muito próximo do fim, que temos a morte por vizinha, íntima. Temem-se muitas coisas sem importância, ao mesmo tempo que se lida com a finitude como se ela fosse tão (im)possível quanto o prémio máximo de uma qualquer lotaria nacional.
Mas a morte é uma certeza, absoluta e pessoal. Nenhuma vida será devidamente vivida se o sujeito não sentir que este mundo, tal como é possível para nós agora, pode acabar... já.
Mas a morte é uma certeza, absoluta e pessoal. Nenhuma vida será devidamente vivida se o sujeito não sentir que este mundo, tal como é possível para nós agora, pode acabar... já.
Para compreendermos a nossa vida devemos olhar para o nosso passado, mas, se a queremos viver devemos também olhar para diante, talvez com um sorriso, para o amanhã, que será hoje, já daqui a pouco.
Por vezes, perdemo-nos em grandes análises sobre sequências hipotéticas de momentos do nosso passado, a nada, nem a ninguém, isso traz algo de bom, por várias ordens de razões: não altera o que aconteceu; não é sequer plausível que as sequências de eventos que supomos encadeadas se passassem tal como as imaginamos; perde-se tempo... e perde-se sempre tanto tempo em coisas sem importância nenhuma.
Não importa adivinhar o que teria acontecido se isto, ou se aquilo... isso só perturba a vida que realmente interessa: a de hoje. Valerá a pena ter mil passados se, para isso, não se tiver presente nem futuro nenhum?
A vida de cada um é única e irrepetível. Temos, neste mundo, obrigatoriamente um princípio e um fim. O que se passa, ou não se passa, para além desse fim, talvez não deva ser motivo de preocupação inteligente – na medida em que não é nesse mundo que vivemos agora – e cabe a cada mundo as suas próprias preocupações. Faz sentido ser feliz aqui, porque está ao nosso alcance lutar por isso.
Apesar de todas as duras tristezas que por vezes nos chovem sobre dos ombros, há uma força que nos anima e nos faz resistir, que nos dá esperança e nos faz sorrir. A força da vida cuja essência é a simples busca da felicidade. Uma fé que nos ilumina o caminho.
Morreremos todos, um a um. Sem grandes cerimónias, lógicas ou encenações. Naturalmente. Cumpre pois aproveitar a vida, mesmo quando chove... talvez nestas alturas de forma especial, celebrando os ombros fortes que temos, que somos e que mantemos erguidos apesar das pesadas penas da nossa circunstância.
Os momentos mais difíceis, não se deve esperar que passem, deve-se, sim, caminhar para diante, com a certeza de que o nosso lugar não é à chuva.
Hoje, um sorriso. Gesto simples que permite que as alegrias mais fundas passem de um coração ao outro atravessando o ar deste mundo. Muitas vezes os homens escondem o seu sorriso, privando-se a si mesmos e aos outros de algo que faz... maravilhas. Por vezes é duro sorrir, mas o milagre da multiplicação da alegria funda vale todos os sacrifícios. O amor é o maior de todos os dons, capaz de se oferecer mesmo quando não o vemos ou sentimos. O verdadeiro dom, que só existe quando se dá. Capaz de se encontrar todo num simples sorriso.
Não percamos tempo em grande pensamentos sobre o que passou. Na verdade temos um, e um só, passado. Importa assumi-lo sem deixar as imaginações interpretar, justificar ou avaliar o que sucedeu.
Estamos presentes, aqui, agora... teremos um número infinito de futuros possíveis e a morte como certeza absoluta. Não tem qualquer importância a posição onde o passado nos deixou ontem. Importa ser feliz, hoje.
Enquanto a morte não nos leva, devemos sorrir... ou por vontade ou por amor. Que a felicidade começa num sorriso.
José Luís Nunes Martins, aqui