Já imaginou as consequências de a cada caderno reivindicativo dos grupos
socioprofissionais portugueses corresponder a obrigação de pagamento de uma taxa
e depósito?
Para lá de eventualmente aligeirarem a vivência de muitos
departamentos de Estado nos quais os funcionários atrapalham a vida dos cidadãos
à falta de outras razões para não morrerem de tédio, garantida estaria a
libertação da coluna das receitas nas folhas de Excel do ministro das
Finanças....
A ideia terá o seu quê de subversivo, pode mesmo vir a ser aproveitada por Vítor Gaspar nesta fase de vida nacional de angariar receitas de todas as maneiras e feitios. Até lá, entretanto, nada tolhe as mentes mais criativas...- e ainda bem.
A ideia terá o seu quê de subversivo, pode mesmo vir a ser aproveitada por Vítor Gaspar nesta fase de vida nacional de angariar receitas de todas as maneiras e feitios. Até lá, entretanto, nada tolhe as mentes mais criativas...- e ainda bem.
Ontem, por exemplo, associações de defesa dos trabalhadores do sexo (sim, leu
bem) deram à luz documento a suportar razões para justificar uma maior
felicidade de grupo. Para lá da reivindicação de um enquadramento legal sem
práticas discriminatórias, como os rastreios obrigatórios de infeções
sexualmente transmissíveis ou a delimitação de zonas próprias para o exercício
profissional - o que vai para lá do quarto ou da sala de estar, como é evidente
-, o dossiê propõe zonas de elevação do estatuto, digamos assim. Dá nota da
necessidade de alterar o consagrado no Código Penal sobre lenocínio,
considerando que o atual artigo 169 (leu bem, tem um 1 na casa das centenas)
"impulsiona para a ilegalidade qualquer local em que ocorra comércio sexual" e
"impede a celebração de contratos de trabalho e a organização dos trabalhadores
do sexo".
O plano propõe que o trabalho sexual seja uma categoria profissional e,
juntando-lhe direitos laborais idênticos aos dos restantes trabalhadores, do
subsídio de maternidade à baixa médica, férias, horas extraordinárias, subsídio
de desemprego e reforma, vai ao ponto de primar por objetivos de excelência,
como o da formação profissional - não especificando, apesar de tudo, como se
processará, o que dá campo à imaginação de como se aprimorará a competência e os
índices de produtividade - da simples masturbação ao ménage à trois!
Merece óbvio respeito a originalidade do caderno reivindicativo dos
trabalhadores de sexo. Legitima no entanto as mais sérias dúvidas sobre se não é
incauto nos tempos que correm.
A mais cândida das ideias é hoje um potencial gerador de nova caça aos euros
em nome das necessidades dos cofres do Estado. Os trabalhadores do sexo e quem
os apoia num caderno reivindicativo assim ainda não perceberam a complexidade e
as resistências que se colocam aos seus desejos. Quando o Estado social está em
retração, apesar de mais e mais impostos, só mesmo os trabalhadores do sexo
seriam capazes de se colocar à boca de cena para registo na Autoridade
Tributária apostando também, subentende-se, num esquema de Segurança Social mais
benévolo perante o pedido de reforma, crê-se que antes dos 65 anos de idade - a
menos que a definição de trabalhador do sexo seja magnânima com todo o tipo de
práticas....
Sim, é da crise. O país vive uma ambiência mais ensandecida que nunca.
Retirada daqui