A presidente do Banco Alimentar é uma cidadã implicada na
solidariedade para com os mais desfavorecidos que não precisa de fazer novas
provas dessa sua cidadania por efeito das opiniões de alguns iluminados, cuja
missão à face da Terra é desconfiar de tudo e de todos.
Que foi o que, ao longo
desta semana, tentaram fazer com Isabel Jonet. Ou seja: colocá-la sob a
suspeição de, por detrás da obra, poder estar a defender a austeridade. Porquê?
Por ser ela, a austeridade, que, no fim de contas, alimentaria a pobreza.
Tamanha reação - que ameaça a próxima recolha de alimentos - por Isabel Jonet
ter dito que a crise convida a rever consumos, designadamente os de bife!
Disse-o de um modo básico? Sim. Mas isso vale uma campanha que pode prejudicar
os mais necessitados? Não!
Os detratores de Isabel Jonet acabam por caber na história do cidadão muito
consciente e muito politizado que recusa sempre dar esmola aos pobres para não
desresponsabilizar o Governo e o Estado das suas obrigações constitucionais. Em
contrapartida, este é o mesmo tipo de cidadão que dá sempre gorjeta aos
arrumadores com medo de que lhe risquem o automóvel.
A tendência para julgamentos precipitados, segundo ordens morais que são
apenas de cada um e não da ética adotada pela sociedade, é um dos truques mais
usados pelos iluminados para fazerem passar as suas ideias - e, em casos mais
egocêntricos, as suas taras - como sendo as ideias que decorrem das leis e
normas de comportamentos da boa ordem republicana. Quase sempre, deitando a mão
ao Estado sob a forma de abstração benigna por natureza. Religiosa, por assim
dizer.
É verdade que, conforme é notícia nesta edição do JN, não há volta a dar ao
real: há mesmo relação entre o empobrecimento de muitos portugueses e o facto de
estarmos a comer menos bife. E não é menos verdade que se comemos menos bife e
os nossos pescadores atiram fora o produto da faina por não obedecer às normas
da União Europeia, estamos perante uma austeridade esquizofrénica, que nem
sequer respeita os termos de uma economia de guerra: vão-se os anéis, que fiquem
os dedos. Ou não?!
Nada disto, porém, deveria impedir que a discussão sobre o consumismo se
fizesse. Por dois motivos: para passarmos melhor por este tempo de penúria e
para dar mais saúde aos nossos netos.
Ainda esta semana vi, em imagens televisivas, servirem tripas numa das
cantinas improvisadas que enxameiam o Norte. E dei comigo a pensar que ficariam
bem melhor alimentados aqueles pobres com produtos de outro tipo, designadamente
fruta, laticínios e peixe. E como todos viveríamos com melhor saúde se
soubéssemos como rejeitar a "fast food" e voltar à nossa tradicional dieta
mediterrânica. Que as multinacionais da alimentação destruíram
Retirara daqui