O governo, como se tem visto,
é forte com os fracos (classe média, no geral, e os mais pobres) e fraco
perante os fortes (bancos cujo resgate temos de pagar, mais a roubalheira do
BPN, etc.; empresas público-privadas cuja gestão danosa cai também sobre os
nossos ombros, já macilentos de tanta canga, e tantos outros interesses
instalados (também corporativistas).
O governo que se tem preocupado em fazer um bonito para Merkle ver e o FMI aplaudir, coisa plausível até agora, para convencer a Europa que somos gente fixe e paciente, cumprindo à letra o memorando da Troika, tem agora, com o resgate da banca espanhola, mais do que nunca, uma porta aberta para a renegociação deste mesmo memorando.
O próprio
Cavaco não coloca de lado essa ideia. E com mais justificação, se as condições
de financiamento à banca espanhola, que resgatada, nos pode trazer alguns
benefícios, na área das exportações, forem mais benéficas do que as que foram
impostas a Portugal. Se Passos Coelho sabe, faz que não sabe, criando assim um
tabu que Seguro exige seja desvendado.
A renegociação tem sido exigida pela
esquerda, mas já se levantam mais vozes dentro dos partidos no poder a favor da
revisão do prazo do programa da Troika. Este negócio com Espanha veio abrir uma
janela de esperança, uma oportunidade, que pode trazer “reflexos positivos”, no
entender de Ribeiro e Castro.
Reflexos, já teve um pelo menos: o
primeiro-ministro veio dizer que os países que tiveram de estender a mão à
ajuda externa, irão estar atentos para “não haver condições mais vantajosas para
Espanha que para os outros”.
O que é necessário é que não esqueça amanhã o que
disse hoje. Como às vezes tem acontecido. Já mostrou que tem sido bom aluno,
agora é tempo de mostrar que é estadista na defesa das pessoas e dos interesses
do país, menos agarrado à austeridade, que assume por vezes foros de
imoralidade.
Reconhecida por Cavaco que, depois de ter deixado um recado no 10
de Junho, “ a consolidação orçamental não é um valor em si mesmo”, veio de novo
pedir ao governo mais equidade nos impostos… mas ainda não vimos o Palácio
(Real) de Belém dar o exemplo de austeridade nos largos gastos em tempo de
profunda recessão.
Tão pouco o governo.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 21 de Junho de 2012