segunda-feira, 25 de junho de 2012

OS HERÓIS DOS OUTROS!

Os europeus cada vez mais perdem referências e identidade.


Os últimos heróis europeus remontam à grande guerra. As poucas personalidades que emergiram tiveram uma efémera viagem na memória europeia e americana.


Talvez a única que ficou, João Paulo II, foi desvalorizada no seu impacto com a crescente laicização à escala europeia.

A sociedade ocidental recupera com frequência homens e mulheres que lutaram nas ex-colónias para colmatar a escassez de líderes que lhes formem a unidade e valores. Foram os casos de Ghandi, Mandela e mais recentemente Aung San Suu Kyi da antiga Birmânia, hoje Myanmar. Alguns deles tiveram uma conveniente educação europeia, todos receberam o prémio Nobel da Paz, lutaram contra a opressão nos seus países e defenderam corajosamente os direitos humanos.

Mas o mundo ocidental não importou apenas estas personalidades que encarnaram o bem e o modelo democrático. A falta de heróis e referências permitiram criar ícones de personagens terríveis como Mao e potenciais ditadores como Che Guevara transformando-os em objeto de culto e de merchandising.
A Europa persiste no formalismo da representação democrática em vez de democratizar o bem-estar e pugnar por uma identidade comum. A ideia mais importante do século passado, a união política europeia, foi implementada queimando etapas fundamentais, esquecendo os estados-nação, as fronteiras, as culturas, etc. A moeda única europeia prometia uniformizar a economia e as condições socias das diversas nações.

Muitos europeus têm hoje a clara perceção de que os países periféricos ganharam muitas infraestruturas mas perderam a indústria, a subsistência e autonomia para os do norte mais ricos. O Euro tornou-se instrumento de interesses vários convertendo-se num refúgio dos capitais em fuga da especulação financeira. 10 anos depois do euro pouco mais somos que um cemitério dos depósitos tóxicos dos bancos em vez de uma economia florescente e que, ainda por cima, vai alienando o seu setor produtivo para países que nunca cumprirão com os padrões de democracia e direitos humanos que dizemos defender.
Necessitamos urgentemente de novas propostas que nos tragam novos heróis em quem acreditar e por quem lutar. Se assim não for só adiamos o fim, como o está a fazer a Grécia.

António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 21 de Junho de 2012