Os últimos heróis europeus remontam à grande guerra.
As poucas personalidades que emergiram tiveram uma efémera viagem na memória
europeia e americana.
Talvez a única que ficou, João Paulo II, foi
desvalorizada no seu impacto com a crescente laicização à escala europeia.
Mas o mundo ocidental não
importou apenas estas personalidades que encarnaram o bem e o modelo
democrático. A falta de heróis e referências permitiram criar ícones de personagens
terríveis como Mao e potenciais ditadores como Che Guevara transformando-os em
objeto de culto e de merchandising.
A Europa persiste no formalismo
da representação democrática em vez de democratizar o bem-estar e pugnar por
uma identidade comum. A ideia mais importante do século passado, a união
política europeia, foi implementada queimando etapas fundamentais, esquecendo os
estados-nação, as fronteiras, as culturas, etc. A moeda única europeia prometia
uniformizar a economia e as condições socias das diversas nações.
Muitos
europeus têm hoje a clara perceção de que os países periféricos ganharam muitas
infraestruturas mas perderam a indústria, a subsistência e autonomia para os do
norte mais ricos. O Euro tornou-se instrumento de interesses vários convertendo-se
num refúgio dos capitais em fuga da especulação financeira. 10 anos depois do
euro pouco mais somos que um cemitério dos depósitos tóxicos dos bancos em vez
de uma economia florescente e que, ainda por cima, vai alienando o seu setor
produtivo para países que nunca cumprirão com os padrões de democracia e
direitos humanos que dizemos defender.
Necessitamos urgentemente de
novas propostas que nos tragam novos heróis em quem acreditar e por quem lutar.
Se assim não for só adiamos o fim, como o está a fazer a Grécia.
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 21 de Junho de 2012