Num País pobre, o futebol serve sobretudo para distrair o povo,
desviando a atenção daquilo que é essencial.
Este fim de semana dá-nos a exata
medida do que vos digo. Muitos celebram efusivamente a alegria de mais um
campeonato, enquanto a verdadeira face da chamada indústria futebolística pega
fogo na base.
A situação criada com os jogadores do Leiria e pela administração da equipa profissional não é nova para ninguém. Tentam por todos os meios explicar o inexplicável. Anda-se há anos a empolar orçamentos, a inventar receitas que nunca irão existir, a manobrar estatísticas e a debitar desculpas. Por fim, como em todas as histórias tristes, a realidade não foge porque a empurram para a frente ou porque se nega a evidência como as avestruzes.
Esta situação é semelhante à de
muitas autarquias e do governo. Há uma altura, que é a que vivemos, que quem
paga as favas somos todos nós. É a consequência da não regulação, da permissiva
capacidade dos portugueses tudo desculpar por par de horas de encanto e
diversão. Mesmo perante a insistência do tribunal de contas em como muitas
autarquias inflacionam as receitas, escondendo dívida, ainda não houve mudanças
na forma de fazer a contabilidade nas câmaras. A lentidão na reação é um
problema grave na política, nos negócios, no futebol.
Mas o pior, para voltarmos ao
desporto, é que esta situação é quase global. Diz-se que 80% dos jogadores
profissionais de futebol têm salários em atraso. Não compreendo como os
responsáveis não atuam. Se descermos para os escalões ditos amadores, as
situações são semelhantes, como ouvimos por aí.
É incrível como o País opta por
sobrevalorizar um conjunto de atletas medianos ou até mesmo medíocres,
pagando-lhes verbas que não correspondem ao valor que o espetáculo futebol
liberta. É assustador que se continue a permitir a fuga de capitais ao permitir
que este espetáculo se alimente sobretudo de estrangeiros.
Está claro que os extraordinários
Mourinho, Ronaldo, Figo e muitos outros não mostram a verdadeira face do nosso
desporto. Optamos por desvalorizar os feitos de atletas como Nelson Évora, Telma
Monteiro, Diogo Carvalho e tantos outros que deveriam ser os nossos verdadeiros
heróis.
Para termos desporto a sério,
devemos pôr tudo em causa; a organização do desporto profissional, os contratos
programa desportivos nas câmaras, o desporto escolar, etc…
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 3 de Maio de 2012