segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

TIRADA INFELIZ

O número dos indignados com a miséria de reformas que não dão para as despesas, vai aumentando.

O que não se esperava é que o presidente da República fizesse parte dessa interminável lista. Segundo veio a declarar, a semana passada, em jeito de choramingas, a reforma (dupla, uma como professor universitário e outra como antigo quadro do Banco de Portugal) não lhe chega para as despesas.

De quem se costuma ouvir estas coisas é dos que têm reformas baixas a partir dos 200 euros, dos que estão desempregados, dos que não tomam os remédios necessários, por falta de dinheiro, dos que têm os bancos à perna (juros de empréstimo para casa) e de tantas outras vítimas do monstro do défice. Dizem os jornais que, afinal, a reforma presidencial atinge seguramente os 10 mil euros/mês.

Nada temos contra. É o resultado de quem trabalhou e descontou. Agora, o que não podemos deixar de manifestar é a nossa estupefacção perante esta insensível declaração, que, nas circunstâncias em que o país vive, de miséria e pobreza, é uma grave ofensa para milhões. Nisto estou com o Jerónimo. Só por lapso ou cinismo. Caiu tão mal que logo alguns aproveitaram para organizar, em carnaval antecipado, peditórios, colocar cartazes às costas, mendigando uns euros para ajudar Cavaco.

Alguns terão pensado mesmo ir fazer peditório para as portas das igrejas… Foi tão ridícula a consideração que logo gerou uma onda de indignação. Cavaco falou, quando deveria estar calado e logo atirou para segundo plano o acordo de concertação social em que teve alguma intervenção e onde, finalmente, se viu o ministro da Economia. E logo numa semana em que estava feliz o governo pela assinatura do acordo.

Não é ainda farinha amparo, tudo vai ser submetido à votação, mas é um passo importante para a nossa débil economia. (Um resultado negativo: Carvalho da Silva, mais uma vez, não assinou, talvez por efeitos de herança genética.

Agora chama Judas a João Proença, da UGT e sai pela porta baixa). Mas não tardará a vir para as ruas, para salvar a face da CGTP, Verão.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 26 de Janeiro de 2012