sábado, 14 de janeiro de 2012

O MACACO GOSTA DE BANANA, GOSTA, GOSTA

Fizeram esta experiência com cinco macacos que talvez se aplique a nós, bichos de hábitos teimosos.

Pendurou-se um cacho de bananas no teto de uma jaula e pôs-se uma escada ao lado. Os macacos olharam para as bananas e começaram a trepar os degraus. Quando estavam próximo do fruto desejado levaram com uma mangueirada de água gelada e desistiram.

Minutos depois, repetiu--se a experiência, e assim sucessivamente, até que, um a um, os macacos começaram a deixar de subir a escada. No entanto, sempre que um deles - bastava um - cedia à tentação e avançava, todos eles eram atingidos pela água gelada.

O grupo finalmente percebeu o mecanismo e passou a impedir que qualquer um deles avançasse. Deixou de ser o medo da água a parar os macacos; passou a ser o medo do grupo a travar o avanço.

Esta macaquice das nomeações políticas para as empresas públicas, semipúblicas ou até privadas é uma espécie de casca de banana em que escorregam todos os Governos. Nenhum deles resiste à tentação de distribuir a fruta da época e de influenciar a distribuição pelos da sua espécie. Nalguns casos, nem sequer é preciso ser muito expedito: o comportamento pavloviano dos acionistas privados faz o trabalho obedientemente sem precisar de pistas e dicas. Alguns deles - como o caso de Vasco de Mello em relação às nomeações para a EDP - até se dão ao trabalho de ilibar publicamente o Governo de qualquer influência ou maldade.

Apesar de comovente e genuí-no, o esclarecimento de Vasco de Mello não vai ao essencial da questão. Ninguém está, de facto, a ver Vítor Gaspar pronunciar o nome de Ce-les-te Car-do-na. Ele não o faria porque já não tem esse poder formal e porque é provável que nem saiba quem é a respeitável administradora. Mas também não o faria porque talvez lhe tenha passado pela cabeça - dele ou de outro ministro - que o que tiver de acontecer acontecerá. E o que tem de acontecer é, nestas coisas das nomeações, muito mais forte do que qualquer outro critério.

Eu não sei, de facto, se Passos ou Portas trocaram cromos na EDP: tu jogas a Celeste, eu meto o Teixeira Pinto. Mas as escolhas que os acionistas fizeram exibem essa maravilhosa coincidência de serem todos do sabor político do poder. Uns mais do que outros, claro. Na lista inicial até lá estava o oportuno socialista Luís Amado, que diplomaticamente recusou por não ter perfil de pau de cabeleira. Haverá aqui um sinal de esperança? Um político que recusa a oferta, uma mangueirada gelada de críticas públicas... talvez os próximos governos percebam que, quanto mais um macaco sobe, mais se vê o rabo.

André Macedo, aqui