Merkel tem toda a razão. Quem fala em eurobonds não percebe nada desta crise.
Agora discutam, arranquem os cabelos, atirem-se ao mar ou agarrem-se ao extinto feriado do 1.º de Dezembro, que foi gozado como de costume neste Portugal falido e amargurado, não com o médio prazo, mas com o dia de amanhã.
A União Europeia de Maastricht, os pactos de estabilidade e crescimento que marcaram o nascimento da moeda única e toda a história destes dez anos de euro morreram.
Deixaram muitas vítimas pelo caminho. O sofrimento não vai acabar tão cedo para milhões de pessoas em toda a Europa, mas agora surge uma ténue luzinha ao fundo de um túnel que podia muito bem ser o túmulo do euro.
Vem aí, a grande velocidade, a União Fiscal e Orçamental, que numa primeira fase deverá abranger apenas os 17 países da União Monetária. O anúncio foi feito ontem de manhã no Bundestag pela senhora Europa, isto é, a senhora chanceler da Alemanha, a senhora Merkel. Uma união com regras drásticas contra défices excessivos, dívidas públicas criminosas e políticas fiscais que estrangulam empresas e famílias e a economia em geral.
Desta vez é o vai-ou-racha. Quem quiser continuar na desbunda do investimento público, da dívida pública, do descontrolo absoluto das contas do Estado, na ilusão de que podem gastar à tripa-forra em nome de Estados sociais insustentáveis, quem não aceitar o défice zero e a diminuição da dívida sofrerá na pele sanções financeiras duras e terá com certeza a porta bem aberta para sair do euro e, com sorte, manter-se na UE. É natural que na sequência deste importante passo dado pela Alemanha, com o apoio da França e não só, os Estados do euro sejam obrigados a tomar medidas internas, nomeadamente em matéria constitucional.
Chegados a este ponto na gravíssima crise europeia, seria pura teimosia insistir na criação de eurobonds e sonhar que um dia o Banco Central Europeu vai despejar notas sobre esta Europa angustiada e em risco de perder o comboio da História. A posição alemã é muito clara e definitiva nesta altura do campeonato europeu. Quem continuar a falar de eurobonds não percebe mesmo nada da natureza desta crise, e o BCE não é a Reserva Federal americana ou o Banco de Inglaterra.
Contra factos não há argumentos e não vale a pena andar a lutar contra moinhos de vento. Espera-se é que o principal partido da oposição não repita nesta matéria essencial para Portugal as tristes figuras que andou a fazer na discussão e votação do Orçamento do Estado para 2012. Espera-se que desta vez António José Seguro tenha autoridade suficiente para dizer aos deputados socráticos do seu grupo parlamentar que o país já não suporta mais brincadeiras de mau gosto e comportamentos irresponsáveis.
Quando chegar a hora de Portugal aceitar e cumprir à risca as imposições da nova União Orçamental não há que hesitar ou perder muito tempo com vozes do além que não têm importância nenhuma e muito menos soluções seja para o que for. Os nacionalismos velhos ou modernos nunca foram bons conselheiros e o mundo global é incompatível com os discursos paroquiais que levaram Portugal a esta triste miséria franciscana.
António Ribeiro Ferreira, aqui