O RDA português sobreviveu a tudo, até à queda do Muro de Berlim e à nova Europa.
A Europa está como está. Em profunda crise, sem luzes ao fundo do túnel.
O mundo está como está, com ameaças diversas, mesmo as que podem conduzir a uma guerra.
Não são apenas guerras cambiais, como a que está em curso entre os EUA e a China, com os dirigentes norte-americanos, a começar em Barack Obama, cada vez mais nervosos com a teimosia de Pequim em não valorizar a sua moeda. São guerras a sério, que podem começar a qualquer momento, em Teerão ou no Médio Oriente, por causa da bomba atómica do Irão ou da ditadura de Damasco.
É neste quadro que um país como Portugal, sem voto em nenhuma matéria, tem de encarar a trágica realidade e preparar-se o melhor que puder para ventos e tempestades. É tempo de emergência e também tempo de urgência. É tempo de deitar pela janela fora dogmas, constituições anquilosadas, salamaleques inúteis e dispendiosos, e principalmente de decretar o fim do regime dos direitos adquiridos, o RDA que tem dominado Portugal nestes 37 anos de democracia e que resistiu a tudo, mesmo à queda do Muro de Berlim e à nova Europa que nasceu da implosão do bloco soviético.
Indiferente a tudo e a todos, Portugal não percebeu que tudo seria diferente com a entrada em massa na União Europeia dos novos países do Leste europeu. Indiferente a tudo e a todos, Portugal não entendeu que as trocas comerciais iam sofrer uma transformação profunda com a entrada no espaço europeu das mercadorias produzidas nos países emergentes. Indiferentes a tudo e a todos, os do costume sonharam que seria possível manter contra ventos e marés o RDA nascido em 1974.
Com uma economia cada vez mais debilitada, com o mundo global a aumentar a concorrência em todos os mercados, o RDA teimou em manter-se. O resultado está à vista. Adiaram-se reformas, aumentou-se a despesa do Estado, acumularam-se dívidas que agora não se podem pagar. A bancarrota está aí e as pessoas estão obviamente a sofrer e muito com o resultado de políticas públicas erradas e mesmo criminosas em muitos casos. Mesmo assim, mesmo com os números da desgraça bem à vista de todos, ainda há quem se faça tolo e tente por todos os meios fintar a realidade.
elizmente para o país, as suas vozes têm cada vez menos peso e já não conseguem chegar a muitos céus. Podem chamar-se Cavaco Silva, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, juízes com pareceres jurídicos, professores, sindicalistas, economistas de renome ou sem nome. Portugal não tem voz, nem influência na política internacional, nos mercados e na União Europeia. O futuro não passa por Lisboa.
Não está nas mãos de governos, parlamentos ou presidentes disto e daquilo. Mas Lisboa tem de perceber que a emergência nacional, europeia e mundial exige medidas de emergência e muito urgentes. E para que isso aconteça é necessário que se extinga o regime dos direitos adquiridos quanto antes. A toda a velocidade. Pode não ser suficiente, é certo. Mas é fundamental que seja feito. Sem isso só há uma certeza. Portugal não terá qualquer futuro.
O tempo é de mudança.
Total e radical.
António Ribeiro Ferreira, aqui