O Natal já era para milhões de portugueses.
Resta saber se o monstro da administração pública resiste ao prometido ataque liberal.
Os liberais, poucos, que andam por estas terras lusitanas e apoiaram ardentemente Pedro Passos Coelho contra o malvado Sócrates levaram com um autêntico balde de água fria quando o primeiro-ministro anunciou há dias o tal imposto extraordinário que vai levar metade do subsídio de Natal a quem não tem qualquer hipótese de fugir ao fisco.
O fim dos governadores civis e de uns tantos directores regionais da Segurança Social não serviu para serenar as almas que depositaram tantas esperanças na vontade prometida de reduzir o Estado e acabar, de uma vez por todas, com a fórmula mágica dos governos desta sacrossanta democracia: aumentar os impostos para diminuir o obsceno défice das contas públicas. É rápido, dá milhões e, sinceramente, não é preciso ter um ministro das Finanças altamente qualificado para resolver o eterno problema dos défices, que só Oliveira Salazar conseguiu resolver com a ditadura.
Qualquer amanuense de terceira categoria seria mais do que suficiente para pôr de pé a fórmula mágica das finanças portuguesas. E também não vale a pena andar com desculpas esfarrapadas sobre esqueletos nos armários e surpresas imensas sobre as despesas que as administrações centrais, regionais e locais escondem de tudo e de todos até ao momento fatal. Durão Barroso trocou o choque fiscal em 2002 por um significativo aumento dos impostos, descobriu o país de tanga com a preciosa ajuda de Vítor Constâncio e andou à procura de receitas extraordinárias para garantir os défices exigidos por Bruxelas.
Sócrates, que apareceu na campanha de 2005 como um santinho, atirou-se como gato a bofe à gestão PSD/CDS mal chegou ao governo, chamou o auditor do reino, Constâncio, e decretou mais impostos para combater um défice imaginário descoberto pelo então governador do Banco de Portugal.
Chegados a esta ponto, o governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas reúne-se hoje pela fresquinha para aprovar a complexa orgânica governamental e, de caminho, liquidar muitos organismos dirigentes do Estado. A razia promete. Mas, como as cautelas e os caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, convém saber exactamente o que irá fazer a coligação de centro-direita aos funcionários que vão ficar sem trabalho na administração pública.
Interessa pouco andar a falar de reduções, cortes, fusões e outras coisas muito aliciantes para quem está farto de tanto Estado se, no final das contas, ficar tudo na mesma. É verdade que no programa de governo se fala em rescisões de contratos e na história de uma entrada na administração pública para cinco saídas. Tudo bem, mas o Inferno está sempre cheio de boas intenções. É bom ter sempre algum cuidado e perceber não só o presente como o passado recente.
O monstro criado pelo PREC e significativamente aumentado por Cavaco Silva nos anos 90 resistiu a todas as ameaças, reformas, fusões e extinções. Os governos sucedem-se e o monstro engorda. Veremos se resiste a este ataque liberal.
António Ribeiro Ferreira, aqui