segunda-feira, 25 de julho de 2011

MORTOS E MAIS MORTOS

Mais nenhum animal à superfície da Terra é um predador tão destrutivo quanto o homem.

Ninguém fica indiferente à visão apocalíptica que resulta de um atentado terrorista. É tão grande a desumanidade que não sobra muito mais do que a estupefacção perante o horror da tragédia.

Agora foi em Oslo. Mas as expressões dos rostos que nos chegam é a mesma dos rostos dos espanhóis depois do atentado na estação de Atocha em 95 ou dos nova-iorquinos perante a queda das duas torres de Manhattan. Um choque tão brutal que não há expressão. Os olhares são vítreos, caras taciturnas, espanto e mágoa. As lágrimas são já um passo em frente neste estado de espírito. São daqueles que conseguiram abrir-se ao sofrimento.

Não deixam de me inquietar os primeiros rostos que nos chegam nas primeiras imagens de todos os atentados. Todos tão incrédulos sobre a barbárie que produz mortos e mais mortos que nem chegam à pergunta: porquê? Não conseguem passar, por bloqueio traumático, da outra pergunta: isto é verdade? E a verdade é que não se consegue encontrar uma única explicação que seja para este frenesi de mortandade que, um pouco por todo o mundo, deixa milhares de vítimas e muitos mais milhares, para não dizer milhões, em profundo sofrimento. Pouco importa a motivação dos seus autores. Sejam de extrema-direita, de extrema-esquerda ou fundamentalistas religiosos. Não existe um único argumento moral nem ético, quanto mais ideológico, para explicar esta barbárie medieval.

Pouco importam a razão social e a responsabilidade política que determinam estes comportamentos terríveis. Apenas se percebe, sem se chegar ao porquê, que mais nenhum anima à superfície da Terra é um predador tão destrutivo quanto o homem. Tão impiedoso que nem cuida de saber se mata inocentes, crianças, velhotes, por razões que a razão desconhece. E mesmo que perguntemos se isto é verdade, como aqueles rostos que nos chegam em imagens, reconhecemo-la tão indigna dos valores que durante milénios temos vindo a construir que a estupefacção é o melhor lugar para nos recolhermos perante tão grande brutalidade. Que castigo merece este assassino de inocentes? Que apelo se pode fazer à nossa grandeza de alma para sermos ainda maiores e conseguirmos tratá-lo como um ser humano? Não sei. Observando a dor daqueles rostos estupefactos, confesso que não sei

Francisco Moita Flores, aqui