segunda-feira, 25 de abril de 2011

INTERVENÇÃO DE NUNO BARATA NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE OLIVEIRA DO BAIRRO

Confesso que, de todas as intervenções que tive que escrever para a Sessão solene do 25 de Abril, e já escrevi várias, esta foi, de longe, a mais difícil de todas
Ano após ano tem sido relativamente fácil para mim definir a ideia e construir o texto que aqui vos tenho apresentado…

Este ano, de facto, não se passou dessa forma…

Não faz sentido, para mim, falar-vos hoje, neste ano, das conquistas de Abril ou das responsabilidades que tais conquistas representaram…

Não faz sentido, para mim, falar-vos hoje da importância da cidadania activa, empenhada, responsável e, sobretudo, participativa.

Hoje Portugal vive uma das suas maiores crises económicas… Mas mais grave, vive uma profunda e perigosíssima crise estrutural, de identidade, direi mesmo sistémica, ao nível da própria democracia enquanto modelo de organização social…

Não podia eu, enquanto politico, porque é isso que sou, no sentido em que ocupo um cargo de relativa relevância no municipalismo, Ou como poderia eu, enquanto membro da classe politica deste pais, com que moral, com que autoridade poderia eu subir a este púlpito e falar-vos de esperança, de responsabilidade, ou até de coragem?

Eu sei que se espera de mim e, de todos nós, uma postura e uma atitude positiva e moralizadora…

Mas a única coisa que hoje posso aqui dizer, enquanto politico e por isso enquanto membro da classe politica é que falhamos…

Que a classe politica portuguesa falhou e falhou estrondosamente… e em toda a linha…

Que esta classe politica que recebeu dos capitães de Abril a responsabilidade de governar os destinos desta Nação não foi digno dessa responsabilidade… Da esquerda à direita, passando pelo centro…Falhamos todos…

Não há liderança, não há mérito, não há verdade… Não há seriedade… Como todos sabemos Já ninguém acredita nos políticos…

É evidente que a minha responsabilidade, como a de qualquer um dos elementos políticos ao nível dos municípios é, obviamente, residual e insignificante… É evidente que a grande responsabilidade está nos altos dirigentes políticos ao nível nacional …

Mas apesar disso e ainda assim somos políticos, pertencemos a essa classe, ou a esse grupo… e como tal Hoje subo a este púlpito, enquanto membro dessa classe política, apenas para pedir desculpa a Portugal por termos todos falhado…

Pedir desculpa aos País por não termos sido dignos das conquistas que hoje solenemente festejamos e prestamos tributo…

Para podermos crescer, para podermos ser mais e melhores temos que começar por assumir o erro e o erro está em nós, políticos deste pais… Não está nos funcionários públicos, nem nos trabalhadores das empresas, não está nos empresários, nem nos banqueiros… não está na crise internacional, nem nas agências de rating…

O erro está em nós, na classe politica, que permitiu que alguns poucos senhores da alta finança, da banca e da industria pudessem fazer o que fizeram…

Está na classe política que permitiu que a irresponsabilidade e a incompetência tomassem conta da generalidade das cúpulas do poder decisório deste pais…

Pedir desculpa, enquanto politico insignificante, mas ainda assim enquanto politico, a gerações inteiras de portugueses que pior que saberem que os tempos são maus e que vãos continuar a ser muito maus… Pior que isso é saberem quem são uma espécie de náufragos que têm de lutar só para se manterem à deriva, sem salvação, sem esperança… numa luta inglória pela sobrevivência…

Pedir desculpa à democracia que hoje tomba ferida de morte, fragilizada pelo crescimento de movimentos extremistas por toda a Europa… por uma descrença na nação e na sua matriz identitária…

Depois… Depois é preciso mudar tudo…Começar por falar verdade, custe o que custar… Dizer a verdade aos Portugueses… Só há um caminho e esse caminho só pode ser feito com convicção e empenhamento.

Mas todos sabemos que só seguimos pessoas em quem acreditamos… só podemos confiar em quem mereça a nossa confiança…

Se falarmos verdade, por mais trágica que ela seja, conseguiremos ser credíveis… para depois sermos dignos e de novo, dessa confiança…

Os Portugueses, mais do que esperança, mais do que discursos motivadores e de espírito positivo, precisam de poder voltar a confiar, precisam de poder voltar a acreditar…

Vamos todos nós políticos assumir, sem reservas e sem condições, a vergonha da derrota de toda a nossa classe, para depois, dignamente, poderemos voltar a ser credíveis…

Como é possível que me digam que os portugueses vivem acima das suas possibilidades? Como? Com mais de metade da população até aos 35 anos sem emprego ou em situação precária?

Quem viveu acima das suas possibilidades foi e é o estado e quem o administra…

Para que servem os governos civis deste Pais?

Para que servem os concelhos de administração de metros que não existem?

Para que servem os institutos e fundações que nem o estado sabe quantas são e para que servem?

Olhemos todos para a Assembleia da Republica, para os nossos deputados da nação… espelho daquilo que construímos… uma mão cheia de nada…

Sr. Presidente,
Minhas Senhoras e meus Senhores

Posso estar, e provavelmente estarei, a ser inconveniente, trágico até…eventualmente incorrecto… mas digo-vos o que sinto… Sou politico e assumo a minha culpa enquanto grão de areia dessa praia de vaidades e vícios…

Sei que não somos nós os membros das Assembleias Municipais e das Assembleias de Junta, nem os executivos Municipais os grandes responsáveis… penso até que de responsáveis teremos muito pouco … Penso poder até afirmar que esta conquista de Abril que é o Municipalismo democrático é talvez o bom exemplo de uma política, que não estando obviamente livre do pecado, têm pela sua natureza intrínseca de proximidade e de mais fácil avaliação, desempenhado um importante trabalho em todo o Pais, particularmente nestes pequenos municípios fora dos grandes centros de decisão…

Mas Sou um politico e nunca vou negar esse facto… Assumo hoje como ontem as minhas convicções e as minhas bandeiras… Acredito que podemos, todos juntos, fazer a diferença, se assumirmos a verdade de que falhamos e que podemos fazer muito melhor, que temos que fazer muito melhor e que vamos fazer muito melhor…

É a Pátria que o exige, é a própria sobrevivência da nação, dessa nação que somos todos e cada um de nós, que o exige…

Nuno Barata

(Membro da Bancada do PPD-PSD na AM de OB)