domingo, 13 de dezembro de 2015

A BOA ALMOFADA

É evidente que Passos Coelho e Paulo Portas têm de acelerar o luto

Podem perguntar como se faz a uma multidão de gente. Os últimos anos têm sido tão traumáticos que a maioria dos portugueses sabe de cor a via-sacra da recuperação - só o PSD e o CDS, por deveres de ofício (governar) desconheciam este caminho das pedras. 

Como se costuma dizer, então é assim: negação, raiva, negociação, depressão e finalmente a maravilhosa aceitação, o momento em que se vira a página e se percebe o perigo de viver apenas amarrado ao passado. 

Passos & Portas ainda não parecem ter entrado neste último ciclo, mas quando o fizerem compreenderão que tendo conseguido o milagre de concorrer a umas eleições legislativas sem programa de governo, agora já não podem fingir mais.

Terão mesmo de começar a construir uma proposta política alternativa. Enquanto não se opera esta inevitável metamorfose que pode até implicar maior distanciamento entre PSD e CDS - os sociais-democratas querem ou não recuperar o centro perdido? -, não convém deitar tudo fora. Por exemplo, os depósitos que o anterior governo tinha juntado até setembro, a famosa almofada financeira, acumularam-se chegando aos 18 mil milhões de euros. Partindo do pressuposto que grande parte desta liquidez se mantém disponível, é justo sublinhar a importância que ela assume. Numa altura em que a dívida pública já ultrapassa os 130% do PIB (231 mil milhões) e que o défice de 2016 parece destinado a cair mais devagar do que estava previsto, os credores e os investidores internacionais olham para este valor com especial cuidado. Eles sabem que este para-choques é essencial para aguentar o país no caso de a situação interna ou externa se complicar, isto é, se os famosos mercados voltarem a indispor-se fazendo subir outra vez os juros da dívida soberana. Apesar de este buffer ter um custo elevado (mais juros), seria bom que António Costa esclarecesse de vez como pretende gerir este pecúlio: é para manter, é para reduzir, é para acabar? Apesar de ter criticado em tempos os célebres "cofres cheios" de Maria Albuquerque - uma expressão infeliz que desmereceu um bom ato de gestão -, hoje talvez o PS perceba melhor a importância desta escolha orçamental. Não é riqueza, não é certamente. É dívida. Mas em última instância é o derradeiro reduto para a defesa da soberania nacional.

André Macedo, aqui