É evidente que Passos Coelho e Paulo Portas têm de acelerar o luto.
Podem
perguntar como se faz a uma multidão de gente. Os últimos anos têm sido
tão traumáticos que a maioria dos portugueses sabe de cor a via-sacra
da recuperação - só o PSD e o CDS, por deveres de ofício (governar)
desconheciam este caminho das pedras.
Como se costuma dizer, então é
assim: negação, raiva, negociação, depressão e finalmente a maravilhosa
aceitação, o momento em que se vira a página e se percebe o perigo de
viver apenas amarrado ao passado.
Terão mesmo de
começar a construir uma proposta política alternativa. Enquanto não se
opera esta inevitável metamorfose que pode até implicar maior
distanciamento entre PSD e CDS - os sociais-democratas querem ou não
recuperar o centro perdido? -, não convém deitar tudo fora. Por exemplo,
os depósitos que o anterior governo tinha juntado até setembro, a
famosa almofada financeira, acumularam-se chegando aos 18 mil milhões de
euros. Partindo do pressuposto que grande parte desta liquidez se
mantém disponível, é justo sublinhar a importância que ela assume. Numa
altura em que a dívida pública já ultrapassa os 130% do PIB (231 mil
milhões) e que o défice de 2016 parece destinado a cair mais devagar do
que estava previsto, os credores e os investidores internacionais olham
para este valor com especial cuidado. Eles sabem que este para-choques é
essencial para aguentar o país no caso de a situação interna ou externa
se complicar, isto é, se os famosos mercados voltarem a indispor-se
fazendo subir outra vez os juros da dívida soberana. Apesar de este
buffer ter um custo elevado (mais juros), seria bom que António Costa
esclarecesse de vez como pretende gerir este pecúlio: é para manter, é
para reduzir, é para acabar? Apesar de ter criticado em tempos os
célebres "cofres cheios" de Maria Albuquerque - uma expressão infeliz
que desmereceu um bom ato de gestão -, hoje talvez o PS perceba melhor a
importância desta escolha orçamental. Não é riqueza, não é certamente. É
dívida. Mas em última instância é o derradeiro reduto para a defesa da
soberania nacional.
André Macedo, aqui