1 - Anuncia-se mais um pacote de austeridade. Cada um dos anteriores deveria ter sido o último; nenhum foi, somamos quatro no espaço de um ano.
Cada um deveria ter travado a subida dos juros da dívida; nenhum travou, estamos a pagar uma taxa que se aproxima dos 8 %. Sendo assim, o que resulta destes quatro planos [segundo contas feitas pelo semanário "Expresso"] é que cada funcionário público contribuirá, até 2013, em média, com mais de sete mil euros para o que José Sócrates apelidou de "esforço patriótico"; cada contribuinte, por via dos agravamentos fiscais no IRS e no IVA, terá de entregar, em média, ao Estado, quase 1200 euros a mais, seja pobre ou rico, trabalhador com contrato, precário a recibo verde, gestor ou desempregado, velho ou novo; cada pensionista terá uma factura extra de mais de 500 euros, em média, e também até 2013.
Extraordinário, depois disto, ouvir um primeiro-ministro ou um ministro das Finanças festejarem a diminuição do défice público como se tratasse de um feito. Como não haveria ele de diminuir com o assalto que está em curso ao bolso dos portugueses?
2 - José Sócrates e Teixeira dos Santos, os cordeiros, argumentam com o fantasma do FMI, os lobos. Se a Oposição não aceitar este novo plano de austeridade, se o país não aceitar novo aumento de impostos, as consequências serão apocalípticas. O problema de José Sócrates e de Teixeira dos Santos é que, quando os observamos, o que agora vemos são dois lobos com pele de cordeiro. E entre um mau disfarce e o original, começa a parecer melhor optar por uma boa dose de realismo. É verdade que o FMI impôs, na Grécia e na Irlanda, medidas de austeridade adicionais, antes de aceitar emprestar dinheiro a taxas de juro razoáveis. Acontece que com os nossos lobos de pele de cordeiro o resultado está a ser bem pior: impõem-nos medidas de austeridade tão brutais quanto as do FMI, mas o dinheiro continua a ser emprestado a taxas de juro que nos levarão à ruína.
3 - Os ministros reuniram em Conselho, mas pouco mudou. O quarto plano de austeridade segue para a Assembleia da República e os socialistas nada farão para clarificar posições, ou seja, não vão forçar uma votação. O PSD, que nos últimos dias endureceu o discurso, mantém que não está disponível para viabilizar este ou qualquer outro plano do Governo. Mas também não assume as despesas do jogo, ou seja, a apresentação de um projecto de resolução que redundaria no chumbo do PEC e na queda do Governo. É uma espécie de jogo do gato e do rato. Tendo em conta que aí vêm eleições legislativas antecipadas e, com elas, uma cada vez mais provável intervenção do FMI, ninguém quer ser apontado a dedo como responsável pelo descalabro. O mais provável é que seja um dos partidos mais pequenos - o CDS/PP de Paulo Portas já se imagina no Governo - a fazer de lebre.
Rafael Barbosa, aqui