sexta-feira, 18 de março de 2011

DIÁLOGO QUE NASCE MUDO E MORRE CALADO

Não me revejo na forma de fazer política nem nos políticos que hoje nos governam. Sejam eles primeiros-ministros, ministros ou presidentes de Câmara.

Diálogo, liberdade de expressão, direito de opinião são locuções que nos são caras, nascidas de uma revolução que custou a muitos de nós, a muitos dos nossos pais e avós.

O que me parece é que, prestes a comemorar 37 anos da Revolução de Abril, estamos a voltar ao tempo da lei da rolha e da imposição, em que o diálogo nasce mudo e morre calado, em que voltámos inclusive a ter medo de falar.

Há dias, um professor foi demitido do cargo de coordenador da Equipa de Apoio às Escolas por ter contestado o modelo de avaliação de desempenho. Demitido porque expressou uma opinião, a SUA opinião. Será que entrámos numa máquina do tempo sem darmos conta?...

Passei, há dias, pela cidade de Oliveira do Bairro. Foi uma verdadeira gincana de obstáculos até chegar ao destino, mas em nome do progresso, tudo. (Ou não!?...)

Estacionei na Rua Professor António Joaquim de Carvalho, e continuei o meu caminho a pé. Mas poucos passos bastariam para, por segundos, não perceber bem onde estava. O cenário que me habituara a observar durante anos desaparecera. Não sei que idade contariam as árvores do Jardim Padre Acúrcio, só sei que agora só vão sobreviver na minha memória. Era inevitável em nome de um progresso que dá pelo nome de Alameda da Cidade? Só os técnicos saberão responder.

Mas o carinho da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro pela natureza e por árvores (quase) centenárias não acaba aqui. Por toda a cidade constatamos exemplares decepados. Mas a tília… A frondosa tília que compunha a fotografia da Junta de Freguesia de Oliveira do Bairro… Transplantada. Em nome do progresso. Pode ser que me engane, mas não lhe auguro grande futuro. À tília, claro…

Em nome do progresso e, supostamente, do futuro, mudam-se as paisagens, traçam-se novos caminhos, fecham-se negócios que, nem sempre, são em prol do país, do município, do cidadão.

Há quem já lhe tenha chamado “lAdRA” e se calhar não se enganou. Sim, aquela que agora gere os destinos da água e saneamento em alguns municípios da região. Conheço um munícipe de Oliveira do Bairro que esteve seis meses sem receber a factura. Reclamou 2 vezes através do telefone, mas só à terceira, e pessoalmente, resolveu, aparentemente, o problema. Já calculava – tamanhas eram as queixas ouvidas de outros conterrâneos – que uma factura de seis meses não sairia barata.

Assim, e como a culpa era da “lAdRA”, que não emitira as facturas em tempo devido, perguntou delicadamente se poderia pagar em 2 ou 3 prestações. Resposta: “Poder, pode, mas acrescem 8% de juros.” Não gostou da resposta, mas também não reclamou. Talvez por, de vez em quando, precisar de uns favores na Câmara…

Caros amigos, quem gere os nossos destinos e o bem comum, não o deve fazer de ânimo leve. Valeu a pena, neste caso, a um concelho como Oliveira do Bairro, bem servido em termos de água e saneamento, aderir à AdRA, prejudicando, como se tem verificado, os munícipes que, só a título de exemplo, chegam a pagar facturas 3 a 4 vezes superiores às de municípios vizinhos que não aderiram? Anadia, por exemplo, não o fez e viu recentemente aprovada uma candidatura de 10 milhões de euros para o saneamento no seu concelho. Os munícipes (de Anadia) agradecem.

O que mais estranho no concelho de Oliveira do Bairro, onde resido, é ninguém se manifestar. As Assembleias Municipais, segundo sei, são raramente visitadas por munícipes. As Assembleias de Freguesia idem aspas. Não ouço vivalma a pronunciar-se sobre a razia que fizeram às árvores ou os negócios (que metem água) que, a meu ver, comprometem a memória, por um lado, o futuro, por outro, das gerações vindouras.

Perguntei no outro dia a um amigo oliveirense, que, há não muito tempo, se rebelava contra qualquer injustiça ou acção que comprometesse a sua terra ou que prejudicasse o seu povo, a razão do seu silêncio. Resposta: “Eu? Falar? Para além de não ser ouvido, neste momento tenho medo…” O diálogo que nasce mudo e morre calado.

F. Ferreira