sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O INCRÍVEL ANO DE 1961. QUANDO TUDO MUDOU NAS VIDAS DELES

O ataque de 4 de Fevereiro marcou o início da guerra colonial. Foi há 50 anos.

Audrey Hepburn esplendorosa em "Breakfast at Tiffany''s", Nathalie Wood linda no "West Side Story". Na América de 1961 havia sex appeal em quantidades industriais: John Kennedy, o presidente-star, tinha chegado à Casa Branca e os bebés Barack Obama e George Clooney estavam acabadinhos de nascer.

Em Portugal e colónias a vida corria habitualmente quando, a 4 de Fevereiro de 1961, militantes do MPLA (Movimento para a Libertação de Angola, partido do actual presidente, José Eduardo dos Santos) atacaram a cadeia de São Paulo, a Casa de Reclusão e a Emissora Oficial de Angola. O acontecimento é reconhecido por colonos e colonizados como o início oficial da guerra.

A América de Kennedy tenta logo nesse ano pressionar a mudança na política colonial portuguesa, sem sucesso. Kennedy será derrotado por Salazar neste capítulo - a base das Lajes era tão essencial aos americanos que Kennedy fecha os olhos à guerra de Salazar, mesmo que tenha chegado a proibir a venda de armas a Portugal e votado nesse ano a moção do Conselho de Segurança da ONU a condenar Portugal pela situação em Angola. Os Estados Unidos passarão a financiar a UPA (União dos Povos de Angola) de Holden Roberto.

Em Abril, a Assembleia-geral das Nações Unidas aprova uma moção a favor da autodeterminação de Angola. Botelho Moniz, o general ministro da Defesa, que vinha a criticar a política colonial de Salazar, tenta um golpe militar, que falha e leva à demissão dos chefes militares. Salazar afasta Botelho Moniz e assume pessoalmente a pasta da Defesa. Nomeia novos ministros: Adriano Moreira substitui Vasco Lopes Alves no Ministério do Ultramar e Mário Silva substitui Almeida Fernandes no Exército. É ao dar posse aos novos ministros que Salazar pronuncia a frase que ficará para a história - "A explicação é Angola, andar rapidamente e em força é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão." Já tinha partido, por mar, o primeiro contingente de soldados. Em Agosto, o novo ministro do Exército afirmará à Emissora Oficial de Angola que os "terroristas" só têm duas opções: "Rendição incondicional ou aniquilamento total."

Ontem, em Luanda, a agência de notícias Angop evocou o dia. "Os angolanos comemoram a 4 de Fevereiro o 50º aniversário do início da Luta Armada de Libertação Nacional contra o regime opressor colonial, iniciado na longínqua madrugada de 1961 e culminado em 11 de Novembro de 1975, com a conquista da independência". "Houve muitos sacrifícios, espírito de luta, ousadia, determinação, entrega e abnegação dos bravos e heróicos combatentes desta pátria." "O feito de 4 de Fevereiro, nascido de uma acção clandestina [...] deu pistas, força, luzes e motivação para que os angolanos clamassem pela liberdade". O acto "permitiu obrigar o ''inimigo opressor'' a compreender que "todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e a segurança pessoal". "Das torturas impingidas em madrugadas solitárias, dos tenebrosos e árduos momentos vividos nas cadeias, nos bairros, nos musseques, sem contar outros actos desumanos perpetrados pela PIDE, que indiscriminadamente ceifou a vida de milhares de angolanos, os bravos heróis da Luta de Libertação inspiraram povos de África e do mundo com a sua coragem e bravura."

Ana Sá Lopes, aqui