sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

OS HERÓIS DO 4 DE FEVEREIRO

Na madrugada de 4 de Fevereiro, faz hoje 50 anos, o meu pai subiu para o camião e partiu para o Norte.

À saída de Luanda viu um grupo estranho. O grupo ignorou-o. E a minha história é esta. Há 50 anos, a minha cidade estava tomada por jornalistas estrangeiros que vinham esperar o Santa Maria sequestrado por Galvão. Corriam rumores de que nacionalistas, presos em 1959 e 1960, seriam deportados para longe - era urgente um levantamento que chamasse a atenção dos jornalistas.

O grupo que se cruzou com o meu pai fazia parte de um plano de ataque a prisões e esquadras. Foi isso, e só isso, que aconteceu: assaltos de gente armada contra gente armada. Os assaltos foram gorados, em todos ficaram mortos mais assaltantes que assaltados. Aqueles homens passaram pelas lojas de dezenas de comerciantes brancos indefesos e não os molestaram, terão cruzado mais civis portugueses como o meu pai e nada lhes fizeram.

Como técnica de alertar para uma causa foi um fiasco - sabe-se como o terrorismo engrossa as manchetes. Como técnica de convencer um garoto de 12 anos que acabara de se despedir do pai foi um sucesso: desde 4 de Fevereiro de 1961 sou angolano sem qualquer mágoa. Ao contrário de Camus não tive de escolher entre a justiça e a mãe.

Um dia farei a lista dos meus: filhos de portugueses que escolheram o país onde nasceram. Será um hino a Portugal, outro amor da minha vida.

Ferreira Fernandes, aqui