quarta-feira, 3 de novembro de 2010

COMO FAZER OS RICOS PAGAR A CRISE

A pantominice a que assistimos a semana passada entre o PS e o PSD acerca da aprovação do Orçamento do Estado resume-se numa discussão agiota sobre a melhor maneira de sacar dinheiro aos pobres, condenados sem apelo a pagar a crise dos ricos.

Nem José Sócrates nem Pedro Passos Coelho discutem o fundamento da questão, presos, por um lado, à sua convicção ideológica de que falar em economia de mercado é o mesmo que falar em especulação financeira e, por outro lado, amarrados à dependência do eixo Paris-Berlim que o provincianismo crónico e a pedinchice acumulada de subsídios à União Europeia atou em torno dos líderes portugueses.

Estão, portanto, juntos num programa de solução da crise que passa por aumentos de impostos sobre a classe média, aumento de desemprego, redução de salários na função pública, redução perigosa da actividade do Estado e paragem das obras públicas. Variam as quantidades dos ingredientes da receita, mas o prato que servem é o mesmo.

E, para nos convencerem, ameaçam-nos com a vinda do FMI, o que, sinceramente, ainda era o mal menor, pois, se o que vai passar-se é um assalto ao bolso do contribuinte, ao menos que o controlo do dinheiro não passe pelas sanguessugas dos grandes partidos que andam a roubar o Estado.

Há outra solução? Há. Via-a pintada nas paredes de Lisboa em 1975. Os ricos que paguem a crise! Como? Nacionalize-se! Nacionalizem-se os bancos que nos meteram neste sarilho. Nacionalizem- -se as brisas que exploram as scut desta vida. Nacionalizem-se as estranhas empresas com gestão em parceria pública e privada. Nacionalizem-se os quase monopólios como a Galp, a Refer, a CP, a EDP e eu sei lá que mais. Nacionalize-se tudo o que se diz que é empresa privada mas que, na verdade, vive à conta dos subsídios do Estado.

Aposto, ao tomar posse de todo esse património, que iríamos ter de um dia para o outro um Estado a nadar em dinheiro e até fariam fila os financiadores cheios de vontade de nos emprestar mais dinheiro. Impediam-se os despedimentos em massa, as reduções de salários e os aumentos de impostos.

Depois, em dois ou três anos, era atirar ao rio as clientelas partidárias que navegam por essas empresas, fazer a selecção do que deve continuar a ser público e reprivatizar o que fosse sensato. Crise resolvida.

Ainda nem acabei de escrever e já imagino o ruído: "Socialismo! Comunismo! Pecado! Pecado! Loucura! Loucura! Estupidez! Estupidez." Pois, talvez seja isso tudo... E o que se passou nos últimos tempos, foi um pecado menor que este? Foi uma loucura menor que esta? Foi uma estupidez menor que esta?...

Pedro Tadeu, aqui