Parece que é amanhã que o Homem dirá a tão ansiada Palavra. A palavra da Fé, da Esperança e da Salvação (...) Três simples letras: Nim.
...E de um átimo, do Caos emergiu o Homem. Não um homem - mas o Homem. Porque as multidões não tardaram a adivinhar que, mal soasse a sua hora, Ele haveria de mostrar que aparecera para cumprir uma missão. A qual consistia em proferir a Palavra. Não palavras; embora esfíngico e sibilino, Ele falava muito, mas sem nunca proferir a Palavra que marcaria a diferença entre a Salvação e a Perdição.
Na sua corte de Discípulos eram imensos os que lhe exigiam que dissesse a Palavra Não; alguns, raros se bem que importantes, incitavam-no a não ser tão radical. E nunca ninguém ousou esperar que a Palavra fosse Sim.
Mas os dias passavam, o tempo urgia - e o Homem não dizia a Palavra. Preocupado, o procônsul convocou-o, mais aos chefes dos Não-Discípulos, e aconselhou-os a entenderem-se (o que implicava que a Palavra fosse proferida). Mesmo César - que por acaso não se encontrava em Roma, mas em Bruxelas - desceu do seu pedestal em apoio do procônsul. E o Homem - nada, sempre nada.
Em desespero de causa, três senadores vieram à praça pública e, depois de pesarem Prós e Contras, apontaram, em uníssono, o caminho a seguir. As turbas continuaram à espera. Mas em vão, o tabu mantinha-se.
E é então que o inimaginável acontece. Levantando-se dos bancos onde, no mercado, emprestavam dinheiro a juros, alguns cidadãos avistaram-se com o Homem e imploraram-lhe, consta, aquilo que (quase) toda a gente espera há muito: «Senhor, nós não somos dignos, mas dizei a Palavra e seremos salvos das garras e das fauces do FMI».
Parece que é amanhã que o Homem dirá a tão ansiada Palavra. A palavra da Fé, da Esperança e, espera-se!, da Salvação. Nunca se terá ansiado tanto por uma palavra. Três simples letras: Nim.
Sérgio Andrade, aqui