quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MUNICÍPIOS ENDIVIDADOS

Há poucos dias, a Direcção Geral das Autarquias Locais (DGAL) divulgou um mapa com a evolução do endividamento dos municípios portugueses, nos anos de 2008 e 2009A comparação é feita analisando o endividamento líquido e o endividamento excepcionado.

O primeiro inclui basicamente o crédito bancário e de fornecedores deduzido dos depósitos bancários e créditos sobre terceiros. O segundo é o montante dos empréstimos bancários obtidos para projectos com apoio dos fundos comunitários e que não contam para o limite de endividamento.

Olhando para evolução dos municípios da Bairrada, verifica-se que não há uma tendência uniforme. O crédito disparou em Cantanhede e teve um aumento substancial em Oliveira do Bairro. Por outro lado diminuiu em Águeda, Anadia e Vagos. O crédito excepcionado ainda constitui uma parcela pequena da totalidade das dívidas, mas tem tendência a aumentar com o avanço de projectos apoiados pelo QREN.

                  Endivid.      Endivid.                   Endivid.   Endivid.
                   liquido        líquido                      Excep.     Excep.
  ANO      Total 2007  Total 2009   Var.%     2007       2009   Var. %
Águeda        10.961       9.282       -15,32%       0         0          0,00%
Anadia          3.594        2.605       -27,52%   7.181   8.329      5,99%
Mealhada         0            2.297        #DIV/0!     963     707    -26,58%
O. Bairro    9.123         12.702        39,23%     434     220    -49,31%
Vagos         10.302        9.255        -10,16%    181     160      11,60%
Cantanhede 2.716        27.698        919,81%  5.758  5.092   -11,57%
Unidade: milhar euros

Não é correcto comparar os valores dos vários municípios sem analisar a composição das receitas de cada um e a capacidade que têm de libertar meios para o pagamento do crédito. Como esta informação não é publicada em qualquer dos sites dos municípios, analiso apenas o concelho de Oliveira do Bairro, onde habito, e do qual tenho a informação fornecida aos vereadores e aos membros da Assembleia Municipal.

Um montante elevado de crédito até pode ser positivo. Quando esse crédito financia projectos que propiciam receitas para se pagar a ele próprio e ainda origina mais receitas. É o chamado crédito virtuoso. Até há pouco tempo, a maior parte dos empréstimos do Município de Oliveira do Bairro serviram essencialmente para a construção da rede de águas e saneamento. Foi um investimento para satisfazer as necessidades básicas da população e criar receitas para a Câmara Municipal. O crédito também serviu para a compra de terrenos para zonas industriais, criando riqueza e emprego, como o Concelho nunca teve. Oliveira do Bairro chegou a ser o concelho com menor taxa de desemprego do país.

Actualmente, o crédito serve para construir oito novas escolas primárias no Concelho e para construir uma Casa da Cultura. Em vez de receitas, estes investimentos originam mais despesa. Despesa actual na construção e despesa futura permanente, na manutenção e utilização destes imóveis.

Atravessamos uma conjuntura económica com as taxas de juro mais baixas de sempre. Mesmo assim, a Câmara Municipal paga quase um milhão de euros por ano à Banca. Quando começar a pagar o empréstimo de 4,1 milhões de euros contratado este ano e um de 750 mil euros aprovado na semana passada, a Câmara Municipal pagará, com as taxas de juro actuais, mais de 1,3 milhões de euros por ano à banca. Se as taxas de juros subirem, este valor aumenta substancialmente.

O dinheiro pedido hoje terá que ser pago mais tarde. Serão as gerações futuras a pagar as consequências do crédito excessivo actual. Se não inverter esta tendência, Oliveira do Bairro será mais um exemplo triste, num país endividado e com futuro sombrio.

Jorge Pato, Economista, no Jornal da Bairrada de hoje.